Por volta das 22h, de terça-feira (21/4), um grupo de milícia armada, com cerca de dez pistoleiros, atacou as 70 famílias do MST acampadas na fazenda Videira, em Guairaçá, no Noroeste do Paraná. Os pistoleiros chegaram atirando contra as pessoas e atearam fogo em cinco barracos dos trabalhadores, queimando tudo que havia dentro.
As famílias conseguiram se esconder em um barracão e ninguém ficou ferido. Após o ataque a polícia da região esteve no local, mas até o momento ninguém foi preso. Segundo os trabalhadores, o grupo de milícia armada é financiado pela Usina de álcool Santa Terezinha e fazendeiros da região.
A fazenda Guairaçá, com 1.231 hectares foi ocupada por cerca de 500 famílias do MST, em 06 de março de 2007, na tentativa de acelerar o assentamento das famílias acampadas na região. Pois a área que pertence à empresária Laci Dagmar Zoller Ribeiro e filhos foi desapropriada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1° de dezembro de 2006, para fins de reforma agrária por ser improdutiva. Segundo, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, após a publicação do decreto, os técnicos tentaram avaliar o local, mas foram impedidos pelos funcionários e pistoleiros armados da fazenda.
Na época o órgão afirmou que iria adotar as medidas necessárias para realizar a avaliação do imóvel e efetuar o assentamento das famílias Sem Terra.
Na tentativa de fraudar o decreto de desapropriação, por meio de uma aparente doação, a fazenda foi subdividida em quatro partes. A ocupação da área se tornou uma disputa entre o modelo da agricultura camponesa e a expansão da monocultura da cana-de-açúcar no estado, já que a área estava sendo arrendada à Usina de álcool Santa Terezinha Ltda. A usina é ligada ao grupo Usaçúcar e pertence a família Meneguetti, com matriz instalada em Maringá e unidades de produção localizadas em Iguatemi, Paranacity, Ivaté e Tapejara.
Durante uma ação de busca e apreensão do Cope (Centro de Operações Policiais Especiais), realizada em setembro do ano passado, em Curitiba, no apartamento do filho da proprietária, Fernando Augusto Zoller Ribeiro, foram encontrados uma grande quantidade de munições, cartuchos e uma pistola calibre 9 milímetros. Fernando é apontado com um dos principais articuladores da milícia armada que vem atacando o acampamento da fazenda Videira.
Em março de 2007, o MST já havia encaminhado denúncia à Ouvidoria Agrária do Incra no Paraná, a Secretaria Estadual de Segurança Pública e a Superintendência da Polícia Federal, cobrando apuração dos ataques de milícias armadas na região Noroeste.
A CPT e o MST exigem agilidade na investigação dos focos de ações de milícias armadas no Paraná e uma resposta contundente a sociedade e aos trabalhadores Sem Terra, que há vários anos são atacados por estes bandos armados. Há alguns anos a formação desses grupos vem desafiando as autoridades do estado. São bandos que agem com armamentos pesados, ameaçam, realizam despejos violentos e assassinatos, sendo financiados e comandados pelos latifundiários, empresas e empresários rurais.
Caso essa situação perdure, os trabalhadores temem que em algum momento ocorra um massacre de Sem Terra na fazenda Videira, como o que aconteceu em Eldorados Carajás em 1996, que após 13 anos ainda permanece impune.
Histórico de ViolênciaA violência de milícias armadas ao acampamento Videira em Guairaçá já vem ocorrendo há cerca de dois anos. O primeiro ataque ao acampamento aconteceu na madrugada do dia 9 de março de 2007, deixando três pessoas feridas. Por volta das três horas da madrugada, um grupo de pistoleiros cercou o acampamento e fez vários disparos de tiros contra os barracos, onde crianças e adultos dormiam. No ataque foram usadas armas de grosso calibre como: metralhadoras, fuzil R15, espingarda calibre 12 e pistola 9 milímetros. Na ocasião a Polícia prendeu dez pistoleiros, que logo em seguida foram soltos. Dois meses depois houve um novo ataque ao acampamento, mas devido à demora da policia em comparecer ao local nenhum pistoleiro foi preso.
Em seguida, as famílias continuaram sofrendo com constantes ataques que destruíram o sistema de água que abastecia as famílias; disparos contra os fios e postes de energia, deixando o acampamento às escuras e algumas vezes as cidades de Terra Rica e Guairaçá sem energia elétrica. Em vários momentos os milicianos também impediram o acesso dos trabalhadores ao acampamento; abateram animais de trabalho como: cavalos; além de impedir a comercialização da produção.
O mesmo grupo de milícia armada também promoveu um ataque á tiros contra uma secretaria do MST, em Terra Rica. Na ocasião ninguém foi ferido.Há cera de 15 dias, houve um novo ataque a tiros contra o acampamento, com dois barracos queimados. Na mesma semana, um Sem Terra que trabalhava na lavoura, plantada na área, foi atacado por pistoleiros, que o agrediram fisicamente e ameaçaram com arma de fogo na cabeça. Segundo testemunha, os pistoleiros estavam em um caminhão identificado com o nome da Usina Santa Terezinha.
(
MST, 22/04/2009)