A estiagem que afeta a região de Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná, está fazendo com que os pequenos agricultores aderissem a um programa de recuperação da mata ciliar e proteção de nascentes. Emater contabiliza as perdas dos grãos e do leite. Francisco Beltrão (PR) - Há 90 dias, chuvas adequadas à agricultura não caem no Sudoeste do Paraná. A seca, para quem vive da lavoura ou da produção leiteira, tem provocado mudanças no bolso. Nem mesmo as pastagens puderam ser recuperadas com as chuvas deste ano, que foram esparsas e localizadas até agora. Na região de Francisco Beltrão, de acordo com produtores e órgãos de assistência, como a Emater, a situação é mesmo crítica. Diante disso, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Francisco Beltrão está mobilizando os associados para que haja conscientização ambiental.
Em cada propriedade, o agricultor é incentivado pelo programa Água, Qualidade de Vida, que tem o apoio da Petrobras, a recuperar e proteger as fontes naturais. Com isso, o tesoureiro do sindicato dos trabalhadores, Romildo Garbossa, acredita no reconhecimento por parte do governo do estado e numa compensação dos prejuízos causados.
"Nós temos um trabalho que o sindicato vem fazendo para todo o associado e claro que depois vai sendo beneficiado o não-associado através do governo, mas o programa de deixar a mata ciliar e a proteção de águas, rios e fontes, minas. A gente tem que deixar toda a reserva. Então tem muitos produtores que perdem muito do seu ganha-pão, deixam de produzir milho, soja, leite. Então a gente está tentando com o governo que reconheça e recompense o que se perde porque quando deixamos essa mata, é importante para o mundo inteiro.
Já o coordenador regional da Emater em Francisco Beltrão Orlei Jair Lopes, que é engenheiro agrônomo, alerta para que os agricultores não esperam a recompensa por parte do governo e garante que tratar a questão ambiental no momento é mesmo a melhor atitude.
"Tenho uma visão muito pessoal em relação a isso, talvez não seja a visão da minha empresa. Mas eu acredito que os agricultores, de forma geral, não podem esperar por esse tipo de compensação porque hoje ela não está vindo, embora seja reivindicada há muito tempo. E quem está sofrendo hoje de forma mais significativa e drástica são os nossos agricultores. Então se vier algum tipo de recompensa futura ela será bem vinda, sem dúvida nenhuma. Mas os agricultores não podem esperar por isso e precisam tomar medidas urgentes e rápidas.
A proteção de fontes, as reservas, os córregos, devem ser protegidos para que a gente tenha a médio prazo uma possível recuperação dessa questão dessas águas. Não vejo neste momento esse entendimento do governo em recompensar isso, mas o agricultor precisa fazer isso porque é ele que sofre prejuízo direto. E é necessário que todos tenham essa consciência de pensar na água. Se cada um pensar na sua água, teremos água para todos. Nós vivemos hoje em Francisco Beltrão, uma cidade que dificilmente tem problemas de abastecimento de água na área urbana. Também há uma situação bastante preocupante com a redução do nível do rio. Ele é resultado de águas que vêm das propriedades que margeiam o rio, daí a importância que cada um procure fazer a sua parte pensando primeiro em si, porque uma propriedade sem água é problema, mas beneficiando também os seus vizinhos e a comunidade urbana", explica.
Lopes comenta os prejuízos da seca. "Nós estamos vindo de um período de estiagem muito prolongado. Historicamente isso acontece ciclicamente, mas em períodos bem maiores do que aconteceu neste último período e esse prolongamento até o mês de Abril é um pouco inusitado. E isso trouxe preocupações adicionais, já que nós tivemos perdas nas lavouras em período normal de plantio, tivemos impossibilidade de plantio das lavouras safrinha tanto de milho quanto de feijão e as lavouras e soja sofrendo intensa,ente na questão de enchimento de grão. Nós temos hoje nas propriedades uma situação extremamente crítica, para falar a verdade porque as pastagens vêm sofrendo com a redução dos nutrientes em razão da falta de água que transloca esses nutrientes para o tecido da planta permitindo que os animais se alimentem. Dessa forma, a alimentação tendo uma qualidade mais baixa, a produção de leite caiu enormemente. Além disso, hoje as fontes naturais de abastecimento de água, que são as nascentes, os poços, os pequenos córregos estão praticamente esgotados. A situação está de forma geral bastante preocupante porque aquela recuperação do cedo ou do tarde e mesmo na exploração leiteira não está ocorrendo.
(Por Larissa Mazaloti, Rádio Onda Sul /
Agência Chasque, 21/04/2009)