Em um período de seis anos, o número de pessoas afetadas pelas crises climáticas pode alcançar a cifra de 375 milhões, o que corresponderia a um aumento de 54%, ultrapassando os limites do sistema de ajuda humanitária. A informação foi apresentada pela Oxfam Internacional, que, por ocasião do Dia da Terra, celebrado Quarta-feira (22/04), divulgou o documento "O Direito a Sobreviver".
Segundo a organização, o aumento tem como principal motivo a combinação da pobreza arraigada e da migração de pessoas para bairros periféricos densamente povoados com propensão a sofrer os efeitos dos fenômenos climáticos. A Oxfam alerta que o panorama se torna ainda mais complexo na medida em que os governos não possuem capacidade política para enfrentar os riscos e o sistema humanitário não acompanha os desafios.
O informe indica que o mundo deve aumentar seus gastos em ajuda humanitária dos $14,2 bilhões investidos em 2006 para, pelo menos, $25 bilhões por ano. A Oxfam ressalta que, mesmo com esse aumento, equivalente a $50 por pessoa afetada, os recursos continuam sendo insuficiente para cobrir as necessidades básicas dessas pessoas.
Além disso, a entidade afirma que o sistema internacional de ajuda humanitária deve atuar de forma rápida e imparcial após cada desastre, não se movendo por meio de preferências políticas ou de outro tipo. Um dos exemplos do investimento por preferências é observado quando são comparados os gastos por pessoa afetada pelo tsunami asiático (média de $1.241 por cada vítima) e pela crise humanitária no Chade (média de $23).
Apesar das dificuldades enfrentadas por países pobres da região da América Latina e Caribe, o informe evidencia dois casos de êxitos alcançados por seus governos. Mesmo não conseguindo evitar vítimas nas quatro tormentas tropicais ocorridas em 2008, Cuba é apontada como um dos países mais bem preparados para enfrentar desastres. Segundo o informe, a ilha tem demonstrado sua capacidade de minimizar o número de vítimas.
O documento cita um relatório da Federação Internacional da Cruz Vermelha e da Meia Lua Vermelha que afirma: "o êxito de Cuba na preservação de vidas humanas mediante uma oportuna evacuação na passagem do furacão Michelle em novembro de 2001 constitui um modelo de efetiva preparação ao desastre impulsionado por um governo". O furacão fez apenas cinco vítimas fatais na ilha, mais de 700 mil pessoas haviam sido evacuadas.
No capítulo intitulado "Soluções a longo prazo para problemas de longo prazo", a Oxfam afirma que as causas subjacentes aos problemas humanitários, como governos autoritários, distribuição injusta da terra, discriminação por motivos étnicos, conflitos pelos recursos, exigem soluções mais profundas do que as que as agências ou programas humanitários são capazes de oferecer. No entanto, a organização enfatiza que a ajuda de emergência pode e deve servir para reduzir a vulnerabilidade a longo prazo.
"As organizações humanitárias internacionais devem desempenhar um papel de enorme importância, tanto ajudando os governos a cumprir com suas obrigações como capacitando a sociedade civil para exigir que assim o façam. Devem aportar uma ajuda imparcial, eficaz e com prestação de contas encaminhada a salvar vidas", conclui o informe.
(Adital, 22/04/2009)