Quando se trata de água, e particularmente de empresas que consomem grandes quantidades nos seus processos de produção, enxugar gastos significa reduzir consumo e ampliar o reuso. Mas a consciência em relação à sustentabilidade no uso do recurso é recente e tem pela frente um longo caminho. A última pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), há quase dois anos - a próxima só ocorrerá em 2010 -, revela que 80% das 68 indústrias sondadas adotam práticas de redução de consumo e reuso do líquido em suas plantas.
Deste total, apenas 34% implementaram a medida há mais de três anos. Os outros 20%, revela o levantamento, desprezam tais práticas. A pesquisa aponta ainda que 15 desse grupo de 68 indústrias investiram R$ 5 milhões em projetos dessa natureza e a economia resultou em 6 milhões de metros cúbicos (m3), desde a implantação até o período analisado.
"A demanda por projetos de reuso está em alta motivada pela redução de custos. Apenas a Bacia Hidrográfica do Alto Tietê ainda fornece água de graça, mas em breve deverá entrar em vigor a cobrança", afirma Gilmar Altamiro, ambientalista e presidente da Organização não Governamental (ONG) Universidade da Água, que há dez anos segura a bandeira da preservação da água no Brasil. Se as indústrias não estão indo com tanta sede ao pote, os pesquisadores correm contra o tempo para estancar o problema e evitar a escassez crescente do produto.
O engenheiro agrônomo Eduardo Girardi, que conduziu a pesquisa "Fisiologia da produção de mudas cítricas sob deficiência hídrica", desenvolvida no doutorado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) de Piracicaba, estudou o comportamento das plantas em diferentes níveis de déficit hídricos por três anos. Girardi conseguiu provar que é possível produzir mudas de laranjeiras de alta qualidade usando 60% menos água.
"O controle é feito por dispositivos colocados em sacolas plásticas - por amostragem - para monitorar a umidade do substrato de cultivo. Assim é possível saber o momento correto da irrigação e evitar o desperdício de água", explica o professor Francisco de Assis Alves Mourão Filho, do Departamento de Produção Vegetal (LPV) e orientador do projeto.
A citricultura do Estado de São Paulo é a maior do mundo, com capacidade de produção ao redor de 30 milhões de mudas por ano em aproximadamente 550 viveiros. Os investimentos na pesquisa totalizaram R$ 50 mil e foram custeados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "O custo da irrigação, mão de obra, máquinas e energia corresponde a 20% no preço final da muda", diz Mourão Filho.
Ao longo dos 134 dias de avaliação, da enxertia até muda pronta, o manejo convencional demandou 114 irrigações, com consumo de 40 litros de água por planta. "No manejo controlado, caiu para 26 irrigações, resultando em um volume de apenas 16 litros", conta o professor. A pesquisa avaliou o efeito de deficiência hídrica sobre o desenvolvimento de mudas de laranja ´Valência´, principal variedade para suco no mercado brasileiro e mundial. O Brasil é líder em exportação de sucos de laranja congelado e concentrado, respondendo por 85% do volume de 1.436.100 toneladas embarcadas na safra 2008/2009, segundo dados do United States Department of Agriculture (Usda).
(Por Rosangela Capozoli,
Valor Econômico, 22/04/2009)