A China declarou que não vai aderir à crescente tendência de terceirização da produção de alimentos por meio de investimento em terras agrícolas no estrangeiro, particularmente na África, manifestando dúvidas de que esses acordos possam melhorar a sua segurança alimentar. Niu Dun, vice-ministro da Agricultura da China, disse nesta segunda (20/04) que Pequim prefere depender da sua própria terra para manter sua autossuficiência em grãos, distanciando o país de nações como a Arábia Saudita e a Coreia do Sul, que estão investindo em terras no exterior.
"Não podemos depender de [investimentos em] outros países para a nossa própria segurança alimentar", afirmou Niu ao "Financial Times", em entrevista concedida durante o primeiro encontro do G-8 sobre agricultura, que terminou na segunda-feira, na Itália. "Precisamos depender de nós mesmos", disse ele, nos primeiros comentários sobre o assunto feitos por um graduado formulador de política chinês.
Na condição de maior economia agrícola do mundo e de maior país consumidor e produtor de cereais, qualquer decisão tomada pela China sobre investimento em terras aráveis africanas teria vastas implicações. Niu rejeitou, porém, qualquer iniciativa nessa direção. "Estamos numa situação diferente da de outros países, como, por exemplo, a Coreia do Sul", ele disse.
A procura por terras agrícolas no exterior sinaliza a forma como alguns países estão buscando reforçar a sua segurança alimentar, depois da forte alta ocorrida nos preços das principais commodities agrícolas no ano passado. Além disso, restrições impostas ao comércio exterior os levaram a acreditar que não poderiam depender do mercado mundial de alimentos.
Os comentários da China foram feitos no momento em que o Banco Mundial dizia ao "Financial Times", à margem da conferência, que a instituição de fomento planeja divulgar um código de conduta para investimento em terras agrícolas no estrangeiro já no próximo mês. O banco quer "evitar perigos imprevistos", no que uma autoridade do alto escalão do banco descreveu como uma nova tendência de investimento "bastante significativa".
Ao mesmo tempo, o braço das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (a FAO, na sigla em inglês), informou que convocará uma reunião para discutir o tema ainda este ano, possivelmente em julho. Juergen Voegele, diretor do Banco Mundial para assuntos de Agricultura, disse à margem do encontro que o objetivo do banco ao publicar as diretrizes não é endossar ou criticar os acordos, mas "tentar ajudar os países [anfitriões] e os investidores a obterem os melhores benefícios".
Ele acrescentou que o Banco Mundial oferecerá orientação em sustentabilidade de longo prazo e sobre as implicações ambientais e sociais desses investimentos. "Este não é um tema preto e branco", disse ele, acrescentando que os acordos poderão servir de benefício mútuo para investidores e anfitriões. Apesar de o tema não ter sido abordado no comunicado do final do G-8 agrícola, Hilary Benn, o secretário de Estado (ministro) do Reino Unido para assuntos de Ambiente, Alimentos e Questões Rurais, disse no encontro que a tendência constitui um sinal claro da gravidade da crise alimentar mundial.
(Por Javier Blas, Financial Times /
Valor Econômico, 22/04/2009)