Três funcionários e o presidente de uma Organização Não Governamental (ONG) são mantidos reféns há quase 24 horas na sede da entidade em Curitiba. Na tarde de segunda-feira (20/04), cerca de 20 índios de diversas aldeias do interior do Paraná invadiram Associação de Defesa do Meio Ambiente de Reimer em protesto contra a falta de repasse da verba destinada a saúde indígena. De acordo com o cacique Neoli Olíbio, da aldeia Boa Vista, no município de Laranjeiras do Sul, mais indígenas estão se deslocando do interior do estado na tarde desta terça-feira (21) para reforçar a mobilização. Apesar de terem feito os funcionários reféns, os indígenas estão agindo de forma pacífica, segundo o presidente da ONG, Eduardo Zardo. Não houve violência e depredação do prédio.
O cacique disse que as 46 aldeias existentes no Paraná estão sem atendimento médico, que é de responsabilidade da Reimer. Desde o começo do ano os indios estão sem receber medicamentos e a verba para compra de alimentação destinada ao combate da desnutrição infantil nas aldeias. A verba normalmente é repassada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para a ONG que faz o atendimento.
Segundo Zardo, a Funasa não tem repassado o dinheiro desde dezembro. O pagamento dos fornecedores está atrasado desde o começo do ano. Já os médicos, enfermeiros e agentes de saúde não recebem salário desde março. “Conseguimos remanejar a verba para pagar o pessoal, mas o dinheiro acabou”, disse.
A falta de repasse teria sido provocada pelo atraso na análise da prestação de contas de 2008 da entidade. Zardo afirma que a Reimer encaminhou a documentação para a Funasa no mês de novembro. "O que a Funasa nos passa é que esse relatório técnico ainda está em análise", disse Zardo. Para o cacique, a falta de entendimento entre as duas entidades estaria prejudicando os índios.“Cada um fica jogando a culpa para o outro. O que queremos e a solução do problema”, afirmou.
Os índios reivindicam repasse no valor de R$ 1,6 milhão. Eles temem que o problema não seja resolvido até sexta-feira (1) quando termina o contrato com a Reimer e uma nova entidade assume o atendimento de saúde nas aldeias. Os indígenas prometem ficar no prédio da entidade até que seja feita uma reunião com representantes da Funasa, da ONG e do Ministério Público.
(Por Gladson Angeli,
Gazeta do Povo, 22/04/2009)