Reservistas indígenas da etnia ticuna da comunidade Umariaçu II, localizada à margem do Igarapé Umariaçu, a 20 minutos da zona urbana de Tabatinga, criaram um serviço de policiamento próprio que impede a entrada de bebida alcoólica na área, proíbe o uso e o tráfico de drogas, controla a entrada de veículos com pessoas que não vivem na aldeia e faz ronda permanente em áreas estratégicas. Se for necessário, também se envolvem em brigas domésticas (prendendo o agressor) e interceptam até mesmo adolescentes que entram com “objetos suspeitos” na comunidade. Todos são voluntários.
Desde que foi criada, há quatro meses, mais de 40 indígenas ticuna da comunidade já passaram pela prisão. Geralmente são jovens detidos por envolvimento em brigas, facadas, terçadadas, a maioria das vezes resultantes de bebida alcoólica e droga, conforme informações do segundo-delegado, Elias Grande Ferreira. De acordo com Ferreira, o índice de criminalidade na comunidade, que havia chegado a uma situação insustentável e era motivo de crítica “dos brancos” de Tabatinga, diminuiu em 80% nos últimos meses.
O policiamento específico para a comunidade é composto por 60 indígenas que serviram o Exército na região de Tabatinga. Eles trajam um fardamento formado por blusa preta, semelhante à usada pelos policiais federais, e jeans. A base é uma delegacia que funciona em um antigo comércio de madeira reestruturado para abrigar quatro celas, mesa do delegado e departamentos burocráticos.
A iniciativa foi batizada de Serviço de Proteção ao Índio (SPI), um resgate proposital do antigo nome da Fundação Nacional do Índio (Funai). Cada policial tem crachá de identificação. Na ronda, todos usam cacetetes e alguns carregam algemas na cintura. Eles dizem que os cacetetes são necessários para a defesa. Os policiais não usam armas tipicamente indígenas. Essas são guardadas para caça e rituais, segundo os ticuna.
As celas são cubículos de um metro e meio quadrados. Elas foram “construídas” num espaço onde antes funcionava o balcão do comércio. Conforme Ferreira, o detido fica, no máximo, 24 horas. Se for reincidente, a punição passa para 48 horas ou, até mesmo, uma semana. Em algumas situações, caso a família permita, o detido pode ficar mais tempo. “Crimes considerados mais graves, como um assassinato (o que ainda não foi registrado neste período), a gente consulta o cacique. Mas se isso acontecer, como a gente não pode ficar com ele preso, manda para o presídio em Tabatinga”, afirma Ferreira.
(A crítica/
Amazonia.org, 22/04/2009)