Cerca de 500 pessoas, lideranças de organizações indígenas de todo o Brasil e de uma grande quantidade de lideranças do Mato Grosso do Sul, participaram, no dia 16 de abril, do grande encontro do povo Terena e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) na Aldeia “Mãe Terra” de Cachoeirinha, no município de Miranda/MS. A atividade teve como marco de referencia o Dia do Índio Americano, 19 de abril, e que no Mato Grosso do Sul, foi resgatado como “um dia de luta”, própria dos indígenas e não como um dia tradicionalmente aproveitado pelo Estado, governos estaduais e municípios para “presentear” aos povos nativos.
O momento mais importante do encontro foi marcado pela apresentação, da “dança da guerra”. A dança abrangia por um lado à valorização da cultura indígena como uma manifestação viva dos ancestrais na luta pela terra e por outro a dança como símbolo de resistência e esperança de vitória “dos povos guerreiros” que agüentaram 500 anos de opressão.
Outro momento de muita significação foi quando as lideranças concordaram que a definição do caso da Raposa Serra do Sol nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF) foi um “atentado contra a Constituição Federal”. Isto tendo em conta que, segundo disseram, “o Estado brasileiro rasgou a Constituição Federal” ao deixar nas mãos de um poder do Estado a definição do que a Constituição claramente coloca como direito inalienável dos povos indígenas. Para a maioria dos povos indígenas do Brasil foi “uma vitória com sabor a derrota”. Durante o ato na aldeia “Mãe Terra” os indígenas concordaram em que as 19 condições do julgamento da Reposa Serra do Sol ferem gravemente as reivindicações de demarcação de terra nos demais Estados do Brasil onde as realidades da estrutura fundiária são absolutamente diferentes.
Tolerância zeroIlton Tuchá, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, de Minas Gerais e do Espírito Santo (APOINME) manifestou que “o espírito de luta e resistência que temos é a única forma de enfrentar os fazendeiros, pistoleiros e policias, porque o Estado não respeita a legislação que ampara os povos”. Disse também que hoje a tolerância dos povos indígenas “é zero” perante os discursos “mentirosos e vergonhosos”.
Cretâ Kaingag, da Articulação dos Povos Indígenas do Sul (ARPINSUL) assinalou que “nosso sangue que regou a nossa terra vai ter valor só se garantimos a vida futura para nossas crianças”. Em outro momento de sua fala apontou também que “a paciência se esgotou porque o Estado brasileiro jogou a Constituição Federal no lixo”. Cretâ anunciou a mensagem de solidariedade para o encontro da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (COAIB), com os povos indígenas de Mato Grosso do Sul.
Ramon Vieira, em nome da Articulação dos Povos Indígenas do Pantanal (ARPINPAM) resgatou a importância da articulação que na atualidade está acontecendo entre os povos indígenas do Brasil para garantir os direitos dos índios, especialmente, no Mato Grosso do Sul, onde os desafios são muito grandes e as necessidades são urgentes, especialmente a demarcação da terra dos povos Guarani e Terena.
A liderança xavante da Articulação dos Povos Indígenas do Cerrado (ARPICE), Arparidi Loptiro expressou que “com as 19 condicionantes, o STF jogou na decisão do caso Raposa Serra do Sol, o Estado brasileiro declarou a guerra para os indígenas de todo o país, porém nós vamos conseguir com nossos rituais, com nossos parentes pintados para a luta e vamos avançar na politização, com espírito guerreiro, para reconquistar nossas terras”.
Léia Aquino, em representação de Movimento Kaiowa-Guarani, junto com Eliseu Lopez e Elda Vasquez, pediram solidariedade para todas as lideranças indígenas das organizações presentes no encontro para acudir de forma urgente em defesa da terra, da vida e do futuro das comunidades de Mato Grosso do Sul. As comunidades estão ameaçadas de genocídio e extinção pelo avanço do agronegócio, da violência e a guerra declarada contra eles por representantes de organizações ruralistas e pelo próprio governador do Estado André Puccinelli. Elizeu López assinalou que o agronegócio em MS só consegue imaginar índios “confinados e em reservas e nossas terras abandonadas e liberadas para soja e cana”.
Lindomar Ferreira e Sacarias Rodriguez, lideranças da aldeia Mãe Terra, do povo Terena, manifestaram que não vão renunciar à reivindicação de 33 mil hectares pelo qual vêm lutando faz 26 anos. Eles aguardam com esperança a homologação de sua terra tradicional já demarcada, embora refém da burocracia do Estado, dos despejos e ameaças dos fazendeiros.
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Cimi - MS, 18/04/2009)