O presidente dos EUA, Barack Obama, quer reduzir o consumo de petróleo, aumentar a oferta de energia renovável e reduzir as emissões de carbono, na mais ambiciosa transformação da política energética em uma geração. Mas os gigantes mundiais do petróleo têm suas dúvidas, e muitos estão à parte do frenesi energético de Washington, queixando-se dos investimentos em novas tecnologias defendidos pelo presidente ou mesmo afastando-se de compromissos prévios.
A Shell anunciou em março que irá congelar sua pesquisa e seus investimentos em energia eólica, solar e a hidrogênio, para focar nos biocombustíveis. A empresa já havia vendido grande parte da sua unidade de energia solar e abandonou no ano passado um projeto de construir a maior “fazenda” marítima de energia eólica, perto de Londres. A BP, empresa que passou nove anos prometendo avançar “além do petróleo”, tem voltado ao combustível desde 2007, fazendo cortes em seu programa de energia renovável. E as empresas de petróleo dos EUA, que sempre foram mais céticas quanto à energia alternativa do que as europeias, estão ignorando as novas mensagens vindas de Washington.
“Na minha opinião, nada mudou realmente”, disse Rex Tillerson, executivo-chefe da Exxon Mobil, após a eleição de Obama, em novembro. “Não nos opomos às fontes alternativas de energia e ao desenvolvimento delas. Mas pendurar o futuro da energia do país só nessas alternativas camufla a realidade do seu tamanho e escala.”
O governo quer gastar US$ 150 bilhões na próxima década para criar o que chama de “um futuro energético limpo”, estimulando mais combustíveis renováveis e reduzindo o consumo de petróleo e as emissões de carbono por combustíveis fósseis. As empresas de petróleo costumam fazer propagandas manifestando seu interesse em novas formas de energia, mas seus investimentos reais não corroboram tal marketing. A maior parte vai para recursos petrolíferos tradicionais, inclusive fontes de alto carbono, como areia de alcatrão e gás natural de xisto, enquanto os investimentos em energia alternativa respondem por uma minúscula fração dos seus gastos. Até agora, isso pouco mudou sob o governo Obama.
“A escala dos seus investimentos alternativos é tão perturbadoramente pequena que é difícil encontrá-los”, disse Nathanael Greene, analista do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais dos EUA. “Essas companhias não sentem que têm de estar na ponta desse negócio.” Nos últimos 15 anos, as cinco maiores empresas de petróleo gastaram cerca de US$ 5 bilhões para desenvolver fontes de energia renovável, segundo Michael Eckhart, presidente do Conselho Americano para a Energia Renovável, ligado à iniciativa privada. Isso representa apenas 10% dos quase US$ 50 bilhões canalizados nesse período para o setor da energia limpa por fundos de investimentos e investidores corporativos, segundo ele.
“As grandes petroleiras não consideram que a energia renovável seja um negócio predominante”, disse Eckhart. “É um negócio paralelo para elas.” A Shell, por exemplo, disse ter gasto US$ 1,7 bilhão desde 2004 em projetos alternativos. A quantia é ofuscada pelos US$ 87 bilhões que ela investiu no mesmo período em seus projetos de petróleo e gás no mundo todo.
Executivos do setor argumentam que é enganador comparar investimentos em projetos de gás e petróleo com seus esforços de pesquisa no campo da energia renovável. Eles dizem que, embora os combustíveis renováveis sejam necessários, eles ainda estão em estágio inicial de desenvolvimento, e que o petróleo continuará sendo a fonte dominante de energia durante décadas.
Em sua previsão de longo prazo, a Exxon diz que até 2050 os hidrocarbonetos —incluindo petróleo, gás e carvão— vão responder por 80% da oferta mundial de energia, mais ou menos o mesmo que atualmente. “A energia renovável é muito real”, disse David O’Reilly, executivo-chefe da Chevron, num discurso em novembro. “Precisamos dela. Será uma parte essencial do futuro que eu antevejo. Mas não é realista supor que podemos substituir a energia convencional num prazo que alguns sugerem.”
Mesmo metas modestas estão se revelando difíceis de alcançar. A diretriz do Congresso norte-americano para o etanol —que as empresas de petróleo usem 136 bilhões de litros até 2020— não poderá ser cumprida sem avanços tecnológicos que ainda estão a anos de ocorrer, segundo especialistas. John Deutch, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e ex-diretor da CIA, agência de inteligência dos EUA, disse que não faz sentido criticar as empresas de petróleo sem que antes se estabeleçam regras federais que estipulem um preço sobre as emissões de dióxido de carbono. Quando isso acontecer, disse ele, as empresas irão adaptar suas estratégias.
“Que papel as empresas de petróleo terão no futuro nas alternativas ao hidrocarboneto convencional? A resposta correta é que ninguém sabe”, disse Deutch. “O importante é que o governo estabeleça uma política do carbono. As empresas do petróleo irão segui-la, como quaisquer outras empresas.”
(Por Jad Mouawad, The New York Times /
Folha de S. Paulo, 20/04/2009)