Das 7 toneladas recolhidas no trimestre no país, 4,5 t foram encontradas na cidade, parte vinda do Paraguai e da Bolívia. Excesso de resíduos no produto pode causar dores de cabeça, vômitos, intoxicação crônica, convulsões e até morteA região de Ribeirão Preto é a campeã de agrotóxicos ilegais apreendidos no último trimestre em todo o país. Foram recolhidas 7 toneladas no período no país, sendo 4,5 toneladas somente na cidade, segundo a Sindag, entidade que representa empresas fabricantes de defensivos agrícolas. Os produtos ilegais são fabricados principalmente em países da América Latina para uso no cultivo de grãos. Quadrilhas também compram o produto original no Brasil e o diluem com outros produtos como corantes e espessantes (espécie de um gel), prática que não é permitida.
O registro de um agrotóxico para comercialização no Brasil depende do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Existem cerca de 1.300 marcas aprovadas no Brasil, de 60 empresas nacionais e estrangeiras. Entre os produtos cobiçados está o que leva a substância clorimuron. Usado na soja, ele é altamente rentável. Um saco de 1 kg pode ser usado em uma área de 500 a 1.000 hectares. "Um quilo é fácil de pôr na mala do carro e trazer ilegalmente do Paraguai", disse Luís Rangel, da Secretaria de Defesa Agropecuária do ministério.
O excesso de resíduos de fósforo, cloro e outras substâncias em agrotóxicos irregulares pode causar ao homem quadros de alergia, intoxicação crônica, vômitos, dor de cabeça e até levar à morte. No ano passado, foram recolhida 40 toneladas em operações da polícia em todo o país -não há dados sobre o local dessas apreensões. Ribeirão, segundo a Sindag, é uma espécie de intermediária: os agrotóxicos adquiridos na Bolívia e Paraguai seriam vendidos para lavouras de grãos em outros Estados, principalmente soja e milho na região Centro-Oeste.
Ribeirão foi alvo de duas apreensões em janeiro deste ano. Na primeira, em uma casa no bairro Tanquinho, foi localizada 1,3 tonelada em galões de "Priori Xtra", uma cópia de um produto da indústria Syngenta usado na soja, milho e trigo. Os rótulos eram falsificados. As outras 3,2 toneladas encontradas imitavam o inseticida Standak, marca da fabricante alemã Basf.
Quatro pessoas foram presas. Os produtos estavam guardados em uma caixa d'água. O que surpreendeu a polícia é que a quadrilha mantinha na casa um misturador industrial, espécie de batedeira gigante para misturar o agrotóxico. "A quadrilha chegou ao nível de sofisticação de ter embalagens, caixa de papelão e até fitas adesivas falsificadas que traziam impressa a marca da empresa", disse Fernando Henrique Marini, gerente da campanha de combate à pirataria do agrotóxico, do Sindag.
Além das marcas flagradas na operação, os falsificadores visam também as marcas Boral, da indústria americana FMC, usada na cana e soja, e a Ranger, da DuPont. Para combater as falsificações, o poder público controla o descarte das embalagens. Falsificadores chegam a pagar R$ 30 por uma embalagem original. Ao comprar um agrotóxico, o agricultor já tem apontado na nota fiscal onde deverá devolver a embalagem.
Na região, um dos principais pontos de entrega é a Central de Recebimento de Embalagens de Agrotóxicos de Guariba. Criada em 1994, foi ampliada há sete anos e recebe 50 t de embalagens por mês.
(Por Juliana Coissi,
Folha de S. Paulo, 20/04/2009)