Manifestações ocorrem após confronto entre sem-terra e seguranças que deixou 9 feridos. Advogada da propriedade, de Daniel Dantas, diz que funcionários "só reagiram" a ação; movimento cobra uma resposta do Estado
Um dia após um conflito entre sem-terra e seguranças de uma fazenda do banqueiro Daniel Dantas ter deixado nove feridos a bala no Pará, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) promoveu neste domingo (19/04) barricadas na região, dispensou auxílio do governo federal e acenou para novas ações nas próximas horas. As manifestações, na semana em que o massacre de Eldorado do Carajás (PA) completou 13 anos, ocorreram em ao menos quatro pontos de estradas. Elas foram uma resposta do movimento ao confronto entre os acampados da fazenda Espírito Santo com seguranças da Agropecuária Santa Bárbara, do grupo Opportunity, anteontem (18/04).
A fazenda de Dantas, em Xinguara (792 km de Belém), às margens da PA-150, está invadida desde fevereiro. Anteontem, sem-terra tentaram cruzar uma porteira que dá acesso a casas de funcionários da propriedade. Dizem que buscavam madeira para erguer barracos. Houve conflito. Dos nove feridos a bala que passaram por hospitais da região, nenhum corre risco de morte. Oito são sem-terra. O outro é funcionário de empresa de segurança. No local, a Folha encontrou um carro capotado com vidros quebrados e uma porteira de madeira marcada por balas.
A Agropecuária Santa Bárbara diz que os seguranças da fazenda só reagiram à ação dos sem-terra. "Eles vieram para cima", disse Brenda Santis, advogada da empresa de Dantas. "Nós só reagimos", afirmou o segurança Sérgio Miranda, 24. Ontem, ao lado do delegado-geral da Polícia Civil e do comandante da PM, o chefe da Casa Civil do Pará, Cláudio Puty, se reuniu em Xinguara com representantes da fazenda e dos sem-terra. Não houve acordo. "Só deixei claro a eles que ninguém vai resolver o conflito de forma ilegal", disse Puty, que seguiu ao município acompanhado de 22 policiais especializados nesse tipo de conflito. Um inquérito foi aberto para apurar os responsáveis pelo confronto de anteontem.
O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, disse aguardar o resultado da negociação. "Se as medidas não forem suficientes, daremos outros encaminhamentos."
No local, o clima é tenso. "Se o governo do Estado não se pronunciar, haverá novas ações nas próximas horas", disse Djalma Ferreira, da coordenação estadual do movimento. Sobre negociadores do governo federal, disse: "Se vier só pra trocar ideia, é melhor nem vir". Marivaldo Pereira, 36, com ferimento a bala no peito, diz que não sairá do acampamento. "Dói. Mas não vou desistir."
(Por Eduardo Scolese, Folha de S. Paulo, 20/04/2009)