É difícil ver ONGs ambientalistas e governos em acordo. Ainda mais quando o assunto é o comércio de emissões de carbono de florestas, a organização é o Greenpeace e o governo é o do Brasil. Mas, no caso do Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), mecanismo em negociação no âmbito das Nações Unidas para mitigar o efeito estufa e compensar as nações pobres, é precisamente isso o que vem acontecendo.
Um novo estudo do Greenpeace dá apoio à posição que o governo brasileiro defende praticamente sozinho na Convenção do Clima, a de não incluir o desmatamento no mercado internacional de carbono.
Num mercado desse tipo, países ricos financiariam a redução do desmatamento em países pobres em troca de "créditos" que lhes permitissem deixar de cortar emissões.
De acordo com o relatório, divulgado na semana retrasada em Bonn, na Alemanha, se as florestas entrassem indiscriminadamente nesse mercado, o preço do carbono cairia até 75%. Carbono barato demais atrapalha os esforços para conter a mudança climática.
A pesquisa mostra também que a medida poderia fazer com que países em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil, perdessem bilhões de dólares por ano em investimentos em tecnologias de energia limpa. Esses países dependem de incentivos para fazer a transição para tecnologias que emitem menos carbono. O setor perderia interesse porque os créditos de floresta são mais baratos.
Mudanças no uso da terra, em especial o desmatamento, causam 20% das emissões de CO2 no mundo. Por isso, é importante incentivar sua redução. Acabar com o desmatamento seria uma forma rápida de reduzir emissões globais.
O estudo foi elaborado por especialistas da Nova Zelândia sob encomenda do Greenpeace. Ele considera que o Redd tem o potencial para trazer reduções no curto e médio prazos, o que ajudaria a atingir metas que forem definidas para o ano de 2020 no novo regime de proteção do clima, a ser negociado em dezembro em Copenhague. Porém, defende que se deve reduzir o desmatamento usando recursos de outras fontes, não do mercado.
"Créditos florestais baratos soam atraentes, mas eles são uma opção perigosa que não irá salvar as florestas ou parar as galopantes alterações climáticas. Entre as muitas opções de financiamento na área de floresta na mesa, esta é a pior", disse Roman Czebiniak, do Greenpeace International.
Inundação - O governo brasileiro vai na mesma linha: de que se as florestas entrarem nesse mercado de carbono, podem inundá-lo com créditos baratos - o que torna mais fácil para os países ricos comprarem créditos do que reduzirem suas emissões. Créditos na área de energia valeriam o dobro ou mais.
O Brasil defende que seja ampliada a ideia do Fundo Amazônia, em que os países doam recursos voluntariamente para reduzir o desmatamento.
(Por Afra Balazina, Folha Online/
AmbienteBrasil, 19/04/2009)