A desaceleração da atividade econômica nos últimos meses já se traduz em desperdício dos recursos naturais do Brasil. Dados recentes do Ministério de Minas e Energia (MME) mostram que a queima e a perda de gás natural nacional cresceram 29,03% nos dois primeiros meses do ano frente igual intervalo de 2008. Em volume, o País desperdiçou 8,14 milhões de metros cúbicos por dia (m³/d) apenas em fevereiro deste ano, o que representa um montante superior ao consumo agregado dos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Bahia ou ligeiramente abaixo da demanda total do Estado do Rio de Janeiro.
O aumento da queima de gás contribuiu para diminuir o excesso de oferta que afeta o mercado brasileiro na esteira da crise econômica internacional. Além da queima, a Petrobras adotou outras medidas operacionais para ajustar o balanço entre oferta e demanda de gás. A estatal também aumentou em 14,5% (+1,06 milhão de m³/d) o consumo interno na área de exploração e produção (E&P) e elevou em 23,6% (+2,33 milhões de m³/d) a reinjeção de gás, procedimento que aumenta a produtividade na extração de petróleo. O somatório dessas ações contribuiu para que a oferta de gás nacional disponível às distribuidoras recuasse no período em questão de 26,25 milhões de m³/d para 20,88 milhões de m³/d, segundo o MME.
Os dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) mostram os impactos da crise internacional no mercado. De acordo com a entidade, as vendas do insumo recuaram 31,7% no acumulado deste ano até fevereiro na comparação com dois primeiros meses de 2008, de 49,1 milhões de m³/d para 33,59 milhões de m³/d. Essa queda se explica pela retração de 27,8% no consumo industrial (para 18,57 milhões de m³/d) e de 58,02% na demanda termelétrica (para 5,67 milhões de m³/d), os principais mercados para o gás no Brasil - no caso da geração elétrica, a redução está relacionada às fortes chuvas do início do ano e à diminuição do consumo de energia, o que possibilitou elevar os estoques de água nos reservatórios das hidrelétricas e diminuiu o uso das termelétricas pelo sistema.
(Por Wellington Bahnemann,
Agência Estado, 18/04/2009)