Treze anos e um dia após o massacre de Eldorado dos Carajás (PA), ao menos cinco pessoas ficaram feridas na cidade, durante confronto entre integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e seguranças da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, do grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. A empresa e a CPT (Comissão Pastoral da Terra) afirmaram que o conflito ocorreu quando os sem-terra tentavam entrar na sede da fazenda Espírito Santo, que fica à beira da rodovia PA-150, ocupada pelo MST desde o final de fevereiro.
Segundo a assessoria da Santa Bárbara, um dos funcionários que fazem a segurança da propriedade foi baleado no tiroteio, assim como outros quatro trabalhadores rurais.
Já José Batista, advogado da CPT, disse que oito sem-terra foram feridos a bala. Segundo ele, dois dos feridos foram mantidos como reféns no local pelos seguranças da fazenda. O advogado e a assessoria afirmaram que ninguém corre risco de morte. Segundo a Deca (Delegacia de Conflitos Agrários) em Marabá (PA), policiais já foram enviados ao local.
Para a empresa, o que houve foi uma tentativa de invasão do prédio, "num movimento de extrema hostilidade". De acordo com Batista, a aproximação à sede só ocorreu pois os integrantes do MST tentavam resgatar um líder do acampamento que, afirmaram, foi capturado por seguranças e estava sendo espancado e ameaçado de morte no local.
Ele disse que "certamente" os trabalhadores estavam armados, com "espingardas, coisas do gênero". Depois do conflito, afirmou, os sem-terra se recolheram ao acampamento. Segundo a Deca, jornalistas e advogados que estavam no local quando surgiram as primeiras notícias da situação foram feitos reféns. A delegacia não soube informar se eles já haviam sido libertados.
Os 13 anos do massacre foram marcados, anteontem, por um ato pacífico na "curva do S", onde, em 17 de abril de 1996, 19 sem-terra foram mortos por policiais militares. Desde julho do ano passado, o MST entrou em ao menos outros duas propriedades da Santa Bárbara.
Pernambuco
Lavradores ligados ao MST invadiram neste sábado (18/04) mais quatro fazendas em Pernambuco, elevando para 12 o número de ações do movimento no Estado na última semana. As invasões fazem parte do "abril vermelho", manifestação em memória dos agricultores mortos no massacre de Eldorado dos Carajás.
Além de Pernambuco, o MST também agiu em pelo menos mais sete Estados -, Rio Grande do Sul, Bahia, Roraima, São Paulo, Sergipe, Paraíba e Santa Catarina.
A maioria dos protestos consistiu em invasões de fazendas. Em Recife (PE), os sem-terra tomaram a sede do Incra e bloquearam a rodovia BR-408.
Em Santa Catarina, manifestantes invadiram uma praça de pedágio na BR-116 e desviaram o trânsito para uma pista lateral do posto de cobrança. Durante cinco horas, os motoristas não pagaram pedágio. Segundo o MST, as manifestações visam acelerar o programa de reforma agrária do governo. A entidade afirma que, das 18.630 famílias oficialmente assentadas em 2008, apenas 2.366 são novas famílias e o restante são regularizações de projetos de assentamentos dos anos anteriores.
(Por João Carlos Magalhães, Folha de S. Paulo, 19/04/2009)