Vários ministros da Agricultura dos países mais desenvolvidos do mundo pediram neste domingo (19/04) o fim do protecionismo na agricultura, dizendo que o caminho para a segurança alimentar passa por incentivos melhores para os produtores. As discussões no primeiro encontro de ministros da Agricultura de países que integram o G8 e o G5 passou para as opções para aumentar a segurança alimentar e maneiras de elevar a produção. Mas o protecionismo alimentar, exercido por países ricos e pobres em proibições à exportação e tarifas sobre importados, também vem sendo tema de discussão.
Organizações internacionais como o Programa Mundial de Alimentos (PMA) pedem auto-restrições na limitação de exportações, criticando as proibições às exportações impostas pelos países mais fortemente atingidos pela alta de preços, que, segundo o programa, estão dificultando os esforços para levar alimentos aos setores mais necessitados no mundo. Enquanto os países ricos querem proteger seus mercados - a Rússia, maior importadora de frangos dos EUA, quer ficar auto-suficiente em aves e porcos nos próximos dois anos, por exemplo --, muitos países pobres reagiram às altas dos preços dos alimentos em 2008, proibindo a exportação de produtos básicos como arroz e trigo.
Em entrevista, a comissária da Agricultura da Comissão Européia, Fischer Boel, disse: "Acho que foram dadas mensagens fortes no sentido de tentar cortar a cabeça do protecionismo brutal". "Isso pode até ser contraproducente e pode aumentar as dificuldades que temos com a segurança alimentar, porque pode reduzir os incentivos para a produção agrícola", disse ela.
Estão presentes à reunião delegados dos países mais industrializados, que formam o G8, e ministros do Brasil, China, Índia, África do Sul, México, Argentina, Austrália e Egito.
Voz dissidenteUma voz dissidente isolada na reunião, realizada num castelo numa encosta de montanha no norte da Itália, veio do anfitrião da reunião, o ministro da Agricultura da Itália, Luca Zaia, que diz que não hesitaria em recorrer a tarifas se o setor agrícola italiano fosse ameaçado. Produtos falsificados, supostamente italianos, prejudicam as exportações de alimentos da Itália, que movimentam cerca de 24 bilhões de euros por ano, e as condições de mercado colocam em risco a sobrevivência de muitos produtores italianos, disse ele.
"Se decidíssemos abolir as tarifas de importação no mundo neste momento, grande parte da agricultura européia desapareceria, porque não somos competitivos com a carne, o leite, os cereais e as flores", disse Zaia em entrevista coletiva. "Estamos falando e vamos falar sobre a rodada de Doha (da OMC). Mas, em minha opinião pessoal, se a rodada de Doha significa acabar com as tarifas de importação e fazer nossos produtores agrícolas passar fome, direi que não estamos aqui para assistir ao enterro da agricultura italiana."
Resta a ver se a questão do protecionismo será mencionada nas conclusões da cúpula, previstas para segunda. A expectativa é que o documento seja vago, focando mais a necessidade de aumentar a assistência para o desenvolvimento e encontrar maneiras de elevar a produção de alimentos, especialmente no Terceiro Mundo, dizem delegados à reunião.
"Em princípio todos concordamos que, no longo prazo, os mecanismos protecionistas devem ser abolidos, e também no contexto da OMC e da rodada de Doha", disse a ministra alemã da Agricultura e da Proteção ao Consumidor, Ilse Aigner. As conclusões também mencionam a idéia de criação de estoques globais de grãos como "conceito geral" que precisa ser estudado, mas sem o compromisso de criar tal sistema.
(Por Jeremy Smith, Reuters /
UOL, 19/04/2009)