Neste domingo e segunda-feira (19 e 20/04), os ministros da Agricultura dos países do G8 (grupo dos sete países industrializados e a Rússia) se encontram pela primeira vez em cúpula própria, na Itália, a fim de elaborar sugestões para a próxima cúpula do G20. O encontro do G8 será acompanhado dos países emergentes do G5 (Brasil, China, México, Índia e África do Sul), como também da Austrália, Egito e Argentina. No entanto, mesmo com espectadores, o encontro do G8 não é o fórum certo para discutir a crise global de alimentos.
É um paradoxo o G8 se encontrar para debater o combate à fome mundial. O G8 é composto dos EUA, Canadá, Rússia, Japão, Reino Unido, França, Alemanha e Itália – todos estes países em que o setor agrícola se baseia em empresas de grande porte e subsídios estatais. Pouco ajuda o fato de o G5 ter sido convidado praticamente como espectador sem direito de voz, quando se trata de elaborar sugestões para a política agrícola global da próxima cúpula do G20.
Primeiramente, é preciso compreender todos os Gs para entender o que acontece em Cison di Valmarino, na província italiana de Treviso. Com um relatório encomendado a priori, "O desafio global de reduzir a emergência da fome", os principais elementos do resultado do encontro do G8 já estão estabelecidos. Pois o documento preparatório encomendado pelos ministros do G8 conhece somente o método antigo e ineficaz para superar a crise: duplicar a produção agrícola até 2050. Tal duplicação se refere, todavia, às estratégias de produção e vendas que, de fato, até agora se provaram extremamente rentáveis para os países do G8, mas não puseram nenhuma comida na mesa de famintos.
O estímulo à produção para o próprio setor agrícola leva repetidamente à falência empresas de pequeno porte no mundo todo. Nos países do G8, a maioria dessas empresas já se tornou vítima da indústria agrícola. O excedente de produção é então exportado como mercadoria barata para países do Terceiro Mundo, onde pequenos agricultores não podem se defender, e onde a agricultura local é destroçada pelos produtos subvencionados dos ricos.
Essa forma de produção agrícola é justamente o que o mundo não precisa, constatou o relatório mundial da agricultura patrocinado pela Unesco, há um ano. Também o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) defende a produção agrícola sustentável como a última salvação, caso queiramos alimentar a população mundial sem destruir o meio ambiente e provocar mudanças climáticas. Hoje, as empresas agrícolas já estão entre os maiores desperdiçadores de água e os maiores agressores do meio ambiente. Um quinto das emissões mundiais de CO2 é causado pelo desmatamento para expansão da área agrícola.
Mas uma produção agrícola sustentável exige uma mudança estrutural, onde saber e sementes não são patenteados por empresas multinacionais. Onde também a produção se faz em harmonia com a natureza e não contra ela, como nas fábricas agrícolas tão maciçamente subvencionadas pelos países do G8. Sustentável quer dizer também que o balanço ambiental deve ser considerado, ao comercializar produtos locais nos mercados internacionais. E sustentabilidade é fazer com que de 30% a 40% da produção mundial não acabe no lixo, como hoje é o caso.
Simplesmente aumentar a produção, como sugerido pelo G8, não irá combater a fome. Alimentos como objetos de especulação com perspectiva de maximização dos lucros não podem ser resposta para a crise global da alimentação. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que 30 bilhões de dólares seriam necessários, anualmente, para superar a crise do setor agrícola e para estimular a agricultura sustentável. Para a crise financeira, já nos encontramos na ordem de grandeza de quatrilhões – e a FAO continuará pedindo em vão somente o dinheiro necessário para extinguir a fome aguda.
(Por Helle Jeppesen, com revisão de Augusto Valente,
Deutsche Welle, 18/04/2009)