Os planos australianos para a criação de um esquema de comércio de emissões podem não valer a pena sem aumentar os cortes de emissão de 15% para 25% até 2020, segundo o responsável pelo desenho do esquema.
O principal conselheiro climático do governo, Ross Garnaut, expressou dúvidas durante uma sindicância parlamentar sobre o sistema planejado.
O esquema, que tem como meta cortes entre 5% a 15% das emissões com base no nível de 2000 até 2020, tem sofrido críticas de grupos ambientalistas por ser muito brando e de grupos empresariais por ser muito rígido.
O esquema australiano seria o mais amplo no mundo, cobrindo 75% das emissões. Cerca dos mil maiores poluidores, desde operadores de transportes e fabricantes de alumínio até produtores de gás e refinarias, teriam que pagar para poluir.
O governo trabalhista australiano quer que as leis de comércio de emissões passem no parlamento este ano para que o esquema inicie em julho de 2010. Mas com o início de uma revisão parlamentar de dois meses forçada por legisladores da oposição, o sistema pode ser adiado.
“O governo terá que fazer mudanças grandes na legislação se realmente quiser aprová-la”, disse na quinta-feira (16) a senadora Christine Milne, vice-líder do Partido Verde australiano.
As metas de emissões para 2020 de 5% a 15% abaixo dos níveis de 2000 são muito fracas para contribuir de maneira justa com a tarefa global de prevenção de mudanças climáticas perigosas, ressaltou ela.
Milne afirmou que existem poucos incentivos para que a indústria corte as emissões, pois o esquema oferece muita compensação para as empresas e faltam restrições para a compra de permissões estrangeiras.
Garnaut também pediu a imposição de limites sobre as permissões gratuitas e mais financiamentos para as tecnologias verdes.
CompromissoO esquema de comércio de emissões da Austrália terá grande parte dos créditos de carbono leiloados, ao contrário das permissões da União Européia que são alocadas gratuitamente. O objetivo é forçar as empresas a poluir menos ou enfrentar custos cada vez mais altos.
“Existem algumas coisas que podem ser feitas que correm o risco de reduzir o compromisso do esquema ao ponto de ser inútil”, comentou Garnaut.
Ele está preocupado que o esquema ofereça muitas permissões gratuitas para as indústrias e quer uma “cláusula de escape” que tornaria mais simples estagnar a alocação.
Os políticos verdes também querem metas mais rígidas, enquanto a oposição conservadora quer que o esquema seja adiado para 2012 para reduzir o choque sobre as empresas que terão que assumir custos maiores.
O governo precisa de apoio da oposição, ou de cinco verdes e dois independentes, para passar a legislação no Senado. A intenção do governo é passar a legislação antes do encontro da ONU em Copenhague no final do ano.
O governo também se comprometeu a apoiar um corte de 15% nas emissões se outros países ricos assumirem metas similares em Copenhague.
A Austrália, maior exportador mundial de carvão e crescente fornecer de gás natural liquefeito (GNL), é responsável por 1,5% das emissões globais de GEEs, mas é o maior poluidor per capita, com 80% da necessidade energética abastecida por usinas à carvão.
As principais indústrias poluidoras baseadas na Austrália, incluindo a BHP Blliton, Alcoa e Rio Tinto, produtoras de alumínio e minério de ferro e a Chevron e Woodside Petroleum, fabricantes de GNL, receberão restrições significativas sobre as emissões.
(Por Michael Perry, traduzido por Fernanda B Müller, Reuters /
CarbonoBrasil, 16/04/2009)