As chuvas que atingiram a Região Norte nos últimos dias e que já deixaram milhares de desabrigados devem se agravar até junho, mês de maior alta do nível dos rios da Amazônia. A capital do Amazonas, Manaus, deve enfrentar a pior cheia desde 1953, com elevação de mais de 3 metros no nível do Rio Negro, que corta a cidade, como adiantou nesta terça (14/04) a Agência Brasil. “Não queremos fazer catastrofismos, mas, pelo andar da carruagem, a situação é muito preocupante”, avaliou ontem (15/04) o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
Em 1953, o nível do Rio Negro chegou a 29,68 metros, número que pode ser superado este ano, de acordo com as previsões do Serviço Geológico do Brasil. “A persistir a tendência, com 70% de probabilidade de acerto, o nível do rio pode ficar entre 29,33 metros e 30,03 metros”, detalhou o diretor-presidente da entidade, Agamenon Dantas. Nos últimos meses, o volume de chuvas em algumas regiões da Amazônia chegou a ficar 500 milímetros acima da média nos primeiro trimestre do ano. A previsão para Manaus nos próximos 7 dias é de 400% a mais de chuva que o normal para o período.
Segundo o superintendente do Serviço Geológico em Manaus, Mauro Oliveira, se o nível do rio chegar ao patamar da cheia de 1953 – 29,68 metros – a inundação afetará pelo menos 50 mil pessoas na capital, principalmente a população que vive em palafitas ao redor de dois grandes igarapés (braços do rio) na área urbana. De acordo com o ministro do Meio Ambiente, as autoridades estaduais e municipais já foram alertadas para o risco do desastre. “Queremos evitar que se repita a tragédia que aconteceu em Santa Catarina. Dessa vez não se poderá dizer que foi por falta de aviso. Avisamos com 60 dias de antecedência”, apontou.
A Secretaria Nacional de Defesa Civil já começou a enviar auxílio para o estado, de acordo com secretário Roberto Guimarães. O repasse incluiu 312 toneladas de alimentos e 450 mil itens dos chamados “kits de desabrigagem”, como colchões, lençóis, travesseiros e materiais de desinfecção. “A Defesa Civil está pronta para responder em caso do acontecimento [a enchente]. Estamos preparados para alimentar, abrigar e medicar”, afirmou Guimarães. A Sedec não descarta a retirada de pessoas que vivem nas áreas de risco e mobilização de outros órgãos do governo federal no atendimento às possíveis vítimas.
No entanto, o secretário reconheceu que “culturalmente” no Brasil as ações de defesa civil são tomadas durante ou após os desastres, sem priorizar as medidas de prevenção. Cálculo da Organização das Nações Unidas, citado por Guimarães, mostra que cada US$ 1 investido em prevenção de desastres evita o gasto de US$ 10 na solução dos problemas. A orientação do secretário é que os moradores da região atendam aos alertas das autoridades locais. “As pessoas que estão lá devem ficar atentas às recomendações da Defesa Civil estadual, municipal, dos órgãos de segurança, como o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar”, apontou.
Além da situação de risco em Manaus, a capital acreana, Rio Branco, também registra tendência de cheia para o Rio Acre. Hoje, o volume do rio chegou à chamada “zona de alerta”, por causa do nível acima do esperado para essa época do ano. Mais de 670 famílias estão desabrigadas em Rio Branco por causa das chuvas recentes.
(Por Luana Lourenço,
Agência Brasil, 15/04/2009)