“O governador André Puccinelli (PMDB) vai protocolar ainda nesta tarde, no Ministério da Justiça, pedido de suspensão do processo de demarcação de terras indígenas em Mato Grosso do Sul”. A recomendação foi do próprio ministro Tarso Genro, durante reunião nesta tarde, em Brasília, da qual também participaram o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, os senadores Valter Pereira (PMDB) e Marisa Serrano (PSDB) e os deputados federais Waldemir Moka (PMDB), Geraldo Resende (PMDB) e Nelson Trad (PMDB). (Campo Grande News, 14 de abril de 2009)
Pode parecer estranho, mas infelizmente é a realidade. O governador do Mato Grosso do Sul, tem se esmerado desde o início de seu mandato, em ser fiel ao seu grupo do agronegócio e seus apadrinhados da elite política e econômica regional. Não teve dúvidas em dizer que este estado não será terra de índios, em propor levar os Kaiowá Guarani para outras regiões do estado e do país. Foram inúmeras as audiências em Brasília, com presidente da República, ministros e órgãos envolvidos com a questão indígena. Sua forma viril e autoritária se espalhou pelos corredores do poder em Brasília. Sua fama de persistência e intransigência antindigena se espalhou pelo mundo. Entre abrigar o capital nacional e internacional para a construção de mais 50 usinas de álcool e açúcar ou reconhecer os tekoha (terras tradicionais indígenas) não tem dúvidas em dar guarida aos primeiros. Entre distribuir politicamente cestas básicas a 15 mil famílias indígenas, ou garantir-lhes sua terra para poderem produzir seus alimentos, não tem dúvidas em ficar com a primeira opção.
Mas nesta cruzada pelo desenvolvimento do agronegócio, da implantação das usinas de álcool, ele também é alertado de que foi eleito para governar para todos e não apenas para garantir a acumulação e privilégios de uma minoria. Pode até fazer ouvido mouco para essas lembranças, mas a história dá muitas voltas e a justiça, humana ou divina, pode tardar mas far-se-á prevalecer. Todos os genocídios e negação dos direitos humanos elementares a historia os cobrará. Os Kaiowá Guarani não esquecerão de seus algozes, de ontem e de hoje.
Nunca é demais lembrar que temos uma Constituição, e nela está determinado que até 1993 todas as terras indígenas deveriam estar demarcadas. Passados mais de 20 anos não seria mais lógico e racional lermos uma manchete na mídia sul mato-grossense, “Governador vai a Brasília cobrar agilização na identificação e regularização das terras indígenas no Estado”. Quem se responsabiliza pelas centenas de mortes Kaiowá Guarani ocorridas nestes 20 anos, e que estão prosseguindo com 40 assassinatos só no ano passado e mais de 300 só nesse início do século 21? Talvez seja mais fácil governar contra os direitos indígenas do que contrariar os interesses das elites e do agronegócio.
(Por Egon Heck, Cimi – MS, 15/04/2009)