O país colocará em funcionamento neste mês o primeiro sistema de captura e armazenamento de carbono (CCS) instalado em uma termelétrica de larga escala, sinalizando que o uso da tecnologia está mais próximo de se tornar viável
Em um projeto de € 60 milhões, a companhia Total Gas &Power aperfeiçoou uma termelétrica localizada na vila de Lacq, na França, para capturar e armazenar 60 mil toneladas de dióxido de carbono por ano, tornando-se a primeira usina de larga escala já em funcionamento a ser adaptada para a tecnologia de CCS.
Essa tecnologia é vista, por alguns especialistas, como fundamental no período de transição entre os combustíveis fósseis e as energias renováveis. Eles também afirmam que a redução de emissões de países como a China, EUA e Inglaterra, que ainda usam muito carvão, depende do desenvolvimento do CCS.
A termelétrica de Lacq vai utilizar um sistema já existente de tubulações para conduzir o CO2 até um dos maiores campos de gás natural da Europa, hoje praticamente vazio, em Rousse, também na França. O projeto será mantido por dois anos, quando haverá uma pausa para que engenheiros possam estudar as conseqüências do armazenamento do gás no campo a 4,5 mil metros de profundidade.
Segundo Philippe Paelinck, um dos engenheiros responsáveis pela construção do equipamento de CCS em Lacq, o projeto é um importante marco. “Nós provamos que é possível adaptar uma usina para essa tecnologia a custos acessíveis. Também será a primeira vez que um esquema de armazenamento de CO2 utiliza uma rede de tubos já existente”, contou o engenheiro para o jornal britânico The Guardian
A tecnologia adotada pelos franceses utiliza a queima do combustível fóssil em uma atmosfera rica em oxigênio, processo chamado oxicombustão. Os gases resultantes são compostos quase que exclusivamente por CO2 e vapor de água, que podem ser facilmente separados e armazenados.
“Agora precisamos dominar completamente essa nova tecnologia”, disse o coordenador de mudanças climáticas da Total, Luc de Marliave. “A oxicombustão nunca havia sido testada a esta escala e ainda mais de forma integrada a um esquema de CCS”.
A escolha por esse método de queima por oxicombustão teria sido feita para diminuir os custos. “Com esse modelo podemos reduzir os gastos com a captura do CO2, que é a maior parte do custo do CCS. Normalmente o valor dessa captura seria de algo como € 70 por tonelada, já utilizando a oxicombustão isso cai para € 35 euros por tonelada”, revela Marliave.
Mundo
Outros países também já demonstraram claro interesse no desenvolvimento de projetos de armazenamento de carbono. China e EUA estão investindo pesado, já que muito de sua base energética depende do uso do carvão.
O governo chinês está para lançar seu primeiro experimento de CCS, orçado em mais de US$ 3,5 bilhões e localizado numa usina na Mongólia. Com uma nova termelétrica alimentada a carvão sendo construída a cada semana no país, que se consolida como o maior poluidor mundial, é vital que o gigante asiático encontre maneiras de conciliar seu crescimento econômico com menores emissões.
Já os Estados Unidos largaram atrás na corrida de projetos em larga escala de captura e armazenamento de CO2, em muito por responsabilidade da administração Bush que cancelou o orçamento para essa tecnologia. Agora, o Secretário de Energia do governo Obama, Steven Chu, já afirmou que vai rever essa política.
Enquanto isso, a gigante da agricultura Archer Daniels Midland está começando a testar um projeto de armazenar CO2 emitido por moinhos de milho em uma formação de rocha a dois mil metros de profundidade. Para realizar a experiência, a empresa conseguiu um apoio de US$ 66,7 milhões do Departamento de Energia dos EUA.
Planos de financiamento governamental para o CCS na Europa têm se movido devagar, mas começaram a mostrar sinais de avanço. A União Européia quer 12 usinas de demonstração em operação na próxima década e reservou 300 milhões de créditos de carbono para ajudar o desenvolvimento da tecnologia. Já em janeiro de 2009, a comissão européia propôs €1,25 bilhões para o início do CCS em 11 usinas movidas a carvão no continente.
(Por Fabiano Ávila,
CarbonoBrasil, 16/04/2009)