Em memória a mortos de Carajás, houve invasões, marchas e protestos
A jornada nacional de lutas que o Movimento dos Sem-Terra costuma realizar nesta época do ano, também conhecida como "abril vermelho", resultou ontem em invasões de terras, marchas e atos de protesto no Rio Grande do Sul, Pernambuco, Mato Grosso, Pará, Bahia, São Paulo e Distrito Federal. Somadas as ações iniciadas na semana passada, a jornada já atinge oito Estados. Em Marabá Paulista, município da região do Pontal do Paranapanema, no oeste do Estado, cerca de 200 integrantes do MST montaram um acampamento na Fazenda São José. A propriedade havia sido invadida na noite de terça-feira, quando os militantes chegaram num comboio formado por ônibus, caminhões e carros.
A Polícia Militar confirmou a invasão e informou que o proprietário, José Teixeira dos Santos, entrou com pedido de reintegração de posse no Fórum de Presidente Venceslau, sede da comarca. Aos policiais, Santos disse que as terras são documentadas e produtivas. Ele não foi localizado ontem. Os líderes do MST, no entanto, alegam que os 1.200 hectares são improdutivos e devem ser desapropriados.
Em Belém, no Pará, o MST organizou uma marcha, com quase 500 trabalhadores. Eles atravessaram várias ruas da capital reivindicando reforma agrária e a punição dos responsáveis pelo massacre de 19 trabalhadores rurais ocorrido durante um confronto com a Polícia Militar, em Eldorado dos Carajás, no dia 17 de abril ano de 1996. No local das mortes, conhecido como curva do S, foram realizadas manifestações em memória dos mortos.
Ainda em Eldorado dos Carajás, os sem-terra invadiram uma nova área da Fazenda Maria Bonita, ligada à Agropecuária Santa Bárbara, empresa do grupo do banqueiro Daniel Dantas. Segundo o MST, a ação foi um protesto contra decisão da Justiça de manter presos doze integrantes do movimento, acusados de porte de ilegal de armas e formação de quadrilha. Eles foram detidos dez dias atrás, quando paravam motoristas que trafegavam pela Rodovia PA-150. "Está havendo uma criminalização dos movimentos sociais", disse o coordenador estadual do MST, Ulisses Manaças. Ao falar sobre o massacre de Eldorado, observou disse que já se passaram 13 anos e nenhum dos responsáveis foi preso.
Em Pernambuco, o MST realizou duas invasões, totalizando três nesta semana. Uma das novas áreas ocupadas, a Fazenda Santa Cristina, de 180 hectares, pertence à Prefeitura de Vitória de Santo Antão. A propriedade, de acordo com o secretário municipal de Agricultura, Roberto Bezerra, estava sendo reservada para indústrias que tenham interesse em se instalar no município - a exemplo da Sadia, que inaugurou uma fábrica no mês passado, com a presença do presidente Lula. A outra área ocupada foi a Fazenda Pernambuco, no município de Inajá, no sertão, a 295 quilômetros do Recife.
Em Mato Grosso do Sul, cerca de 300 sem-terra ligados ao MST fizeram um ato de protesto diante do prédio do Incra na capital do Estado. Depois de cobrirem a fachada do edifício com faixas e cartazes, passaram o dia gritando em defesa da reforma agrária. Em Dourados, ao sul do Estado, a 220 quilômetros de Campo Grande, realizaram protestos semelhantes dentro do terreno que abriga a sede do Incra. Os dois locais estão sob força de um interdito proibitório expedido pela Justiça Federal. O documento garante despejo imediato no caso de invasão, sem pedido de reintegração de posse - o que levou os sem-terra a ficarem do lado de fora dos imóveis.
Na Bahia, segundo o MST, 400 famílias invadiram a Fazenda Culturosa, no sul do Estado, para protestar contra o plantio de seringais. Em Planaltina, no Distrito Federal, a invasão ocorrida na Fazenda Engenho teria sido para protestar contra o desrespeito a leis ambientais. Na semana passada, o MST já havia promovido ações em Minas Gerais e Roraima.
(Por José Maria Tomazela, Angela Lacerda, Carlos Mendes e João Naves, O Estado de S. Paulo, 16/04/2009)