Em setembro do ano passado, ouvi a seguinte exclamação de uma pesquisadora da Paraíba: “Seca no Rio Grande do Sul?! Nunca que eu pensava!”. Isto aconteceu na ocasião em que apresentei os resultados da minha dissertação de mestrado, sob orientação do professor Dr. Paulo Waquil, em Campina Grande. A nossa pesquisa foi realizada em 2005 e tinha por objetivo captar os efeitos da seca no noroeste do Estado sobre a pobreza e a vulnerabilidade dos agricultores familiares. Ou seja, queríamos verificar se a seca deixa as pessoas mais pobres e vulneráveis ao longo dos anos.

O que ocorre no noroeste do Estado não é somente falta de chuva, ou, em uma linguagem mais formal, estiagem. Trata-se do fenômeno ambiental seca, agravado por períodos de estiagem que se prolongam ao longo de quase 15 anos! Como a vulnerabilidade aumenta a cada ano de seca, a cada novo período de estiagem os efeitos danosos tendem a se intensificar. Os resultados dos nossos estudos apontam para a perda de qualidade de vida, e afirmamos isso por dados como a redução dos ganhos econômicos, a redução da alimentação e perdas que mesclam tanto a renda quanto sentimentos imensuráveis, mas que podem ser sentidos nos olhos dessas pessoas, como diminuição da mão-de-obra familiar, porque os filhos migram para centros urbanos atrás de remuneração, e a dor pela venda de vacas leiteiras que tinham até nome.

Apesar de ser um fenômeno registrado ao longo de tantos anos, espanta-me a forma como este ainda vem sendo tratado pelo governo do Estado, e cabe fazer a ressalva de que já se vão mais de três governadores que “enfrentam” a seca. O que vemos são medidas paliativas, que não consideram as especificidades da região. Primeiro, os municípios do Noroeste não são homogêneos quanto ao desenvolvimento. Por exemplo, Alecrim e Santo Cristo têm sistemas de abastecimento de água diferenciado, onde a população rural do primeiro tem acesso à água mais limitado. Além disso, alguns agricultores mais idosos dizem que a falta da água não é o principal problema, mas sim o fato de a terra não reter mais a água como antes, já que os meses do verão já tinham chuvas mais esparsas.

Considerando que a paisagem da região foi descaracterizada pelo boom da soja nos anos 1970, o desmatamento pode ser um dos principais problemas da região. Então, será que a irrigação bastaria? Infelizmente, minha formação me limitava para o estudo questão ambiental, mas, considerando os danos socioeconômicos que a seca vem trazendo à vida dessas pessoas, afirmo que esta deve ser tratada com muito mais responsabilidade. São perdas acumuladas para a economia do Estado e, principalmente, para esses homens e mulheres que sustentam suas famílias com sacrifício e observam suas vidas piorarem a cada novo verão. Os efeitos da seca não passam com a chuva. Até quando São Pedro será o culpado dessa história?

(Zero Hora, 14/04/2009)