A Coreia do Norte informou nesta terça-feira à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que encerrará "imediatamente" toda e qualquer cooperação, e que reativará suas instalações nucleares, segundo um comunicado divulgado por este órgão da ONU.
"A República Popular da Coréia informou hoje aos inspetores da AIEA nas instalações de Yongbyon que cessa imediatamente toda cooperação com a AIEA", revelou Marc Vidricaire, porta-voz da agência, em um comunicado.
Além disso, Pyongyang exigiu que os inspetores da agência deixem o país o quanto antes e "informou a AIEA de que havia decidido reativar todas as suas instalações nucleares", acrescentou o porta-voz.
Os Estados Unidos condenaram o anúncio da Coreia do Norte, afirmando que o abandono das negociações é "um passo na direção errada".
"Pedimos à Coreia do Norte que pare com suas ameaças provocadoras, respeite a vontade da comunidade internacional e cumpra seus compromissos e obrigações internacionais", declarou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs.
Mais cedo, a Coreia do Norte havia anunciado que vai abandonar as negociações entre seis países e reativar seu programa nuclear, em uma reação à condenação pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas pelo disparo de um míssil de longo alcance.
Pyongyang "rejeita firmemente" e considera um "insulto insuportável" contra seu povo a decisão do Conselho de Segurança, afirmou o ministério norte-coreano das Relações Exteriores, citado pela agência oficial KCNA.
"As discussões a seis (Coreia do Sul, Coreia do Norte, Japão, Estados Unidos, China e Rússia) não têm mais razão de ser", destacou o ministério.
"Nós não participaremos nunca mais destas discussões e não nos consideramos obrigados por qualquer decisão adotada durante estas tratativas".
Pyongyang também decidiu reativar suas instalações atômicas, devido à decisão da ONU: "Vamos adotar as medidas necessárias para reabrir nossas usinas nucleares desativadas (...) e reintroduzir os bastões de combustível nuclear nos reatores experimentais", destacou o ministério.
O regime comunista afirma ainda que "vai reforçar seu poder de dissuasão nuclear para garantir sua defesa por todos os meios".
O Conselho de Segurança condenou na segunda-feira o lançamento do míssil efetuado recentemente pela Coreia do Norte e reforçou o regime de sanções contra o país.
Segundo o texto, China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia (os cinco membros permanentes) e Japão "condenam" o lançamento do míssil balístico efetuado por Pyongyang, no dia 5 de abril, e afirmam que está "em contravenção com a resolução 1718 do Conselho, que proíbe a Coreia do Norte de realizar qualquer teste nuclear, ou lançamento de míssil".
China, Rússia e Japão pediram para a Coreia do Norte permanecer na mesa de negociações. Pequim solicitou ainda calma e moderação a todas as partes.
Segundo uma primeira reação de Washington, com esta decisão, a Coreia do Norte corre o risco de isolar-se ainda mais.
Um alto funcionário americano insistiu que a Coreia do Norte "deve regressar para as negociações dos seis e não tomar medidas que que a isolarão ainda mais da comunidade internacional".
No disparo de 5 de abril, várias fases do foguete sobrevoaram o arquipélago japonês antes de cair no Oceano Pacífico.
O governo norte-coreano afirma que o lançamento foi pacífico e permitiu colocar em órbita um satélite de telecomunicações. Mas Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul consideraram que o mesmo foi o lançamento de um míssil de longo alcance, que violou as resoluções da ONU.
"Segundo a lógica americana, o Japão pode lançar um satélite porque é um aliado, mas nós não temos o direito de fazer o mesmo porque temos um sistema diferente e não estamos submetidos aos americanos", afirma a nota da chancelaria norte-coreana.
"O Conselho de Segurança da ONU simplesmente sucumbiu à lógica de gângster americana", completa o texto.
As negociações sobre o programa nuclear norte-coreano iniciadas em agosto de 2003 pretendem obter do regime comunista a renúncia às ambições nucleares, em troca de uma ajuda energética.
Em 2007, a Coreia do Norte aceitou desmantelar os programas nucleares em troca de ajuda energética e de concessões diplomáticas.
No entanto, as negociações, que não impediram que os norte-coreanos ignorassem os compromissos e realizassem um teste atômico em outubro de 2006, estão bloqueadas há vários meses.
(AFP/
UOL, 14/04/2009)