Em 19 de fevereiro, o Viomundo publicou a matéria "Diário da Manhã (GO) engaveta artigo contra amianto". Reproduziu o artigo "A mina de Cana Brava em Minaçu está mais para purgatório do que para paraíso terrestre", de Fernanda Giannasi, engenheira e auditora fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que havia sido "vetado". Sete dias depois o jornal publicou.

Vários comentários postados no artigo fazem acusações sérias à Fernanda Giannasi. Varredura em reportagens mais recentes revela outras investidas do mesmo denunciante: Antonio Ramos Pimentel ou Antonio R. Pimentel, da cidade de Minaçu, norte de Goiás. Aí, fica a mina de Cana Brava, a única de amianto em exploração no Brasil. Pertence à mineradora SAMA, do Grupo Eternit, o maior do setor de amianto no País.

27/02/2009 - 15: 27: "...isso e coisa de fernanda giannasi, conheço vc muito bem estive com vc em salvador bahia, em são paulo no hotel jaragua , o que eu vi so o enteresse de fechar a sama nada mais.se vc e outros cabeça de ferro fechar uma empresa que trata seus foncionarios comtodo respeito e a população ... vc veio aquei enganou os ex trabalhadores fasendo promessas milionarias de indenizações so papo furado , quando vc fala de amianto vc diz coisas que não e verdade... tem coisa por traz disso , chama se grana ... vc so nos fez de otario nos usando . Vc esta e maluca e querendo que a população entre em seu jogo , so que aqui não..."

27/02/2009 - 19:29: "estou morando em minaçu desde 1969 trabalhei na sama mais de 7 anos quando a brasilite era quem adimistrava era não tinha filtros mais hoje a sama e mais limpa do que a cabeça de fernnanda gianasi , que veio aqui com um papo de faser justiça, estive com vc fernnanda na bahia e em são paulo , não vi enteresse de defender doentes qui vc diz eseitir, nem ex trabalhador;vc esta e so querendo fechar uma empresa nobre e ordeira que so trabalhou ..."

03/03/2009 - 22:29: "banir o amianto e coisa de que não tem o que fazer.. ai tem coisa"

04/03/2009 - 01:09: "...curtindo com a cara do trabalhador, querendo banir um mineral milenar... sei que a sama trabalha com total segurança do trabalho, a senhora fernanda gianasi ja veio aki varias vezes e não achou nada que podesse incriminar trbalhadores e o trabalho que a sama faz , na esploração de amianto .onde estão estes relatorios?..."

Desafetos de Fernanda Giannasi por sua batalha contra o amianto existem, são muitos e frequentemente poderosos. Basta navegar no Viomundo pelas matérias sobre o tema. Ou ir ao Diário da Manhã, de Goiás, ou ao site do Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC), que recentemente denunciou a auditora fiscal à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo. O IBC é a entidade que faz lobby a favor da indústria do amianto.

A novidade é a autoria das acusações atuais: o senhor Antonio Ramos Pimentel, 50 anos, presidente da Associação Goiana dos Expostos ao Amianto (Agea), desde 18 de outubro de 2007. A pergunta óbvia: como o presidente de uma entidade cujo objetivo estatutário é banir todo tipo de amianto no Brasil, passa repentinamente a defender o mineral cancerígeno e difamar Fernanda Giannasi, símbolo da luta antiamianto no Brasil?

Os ataques são mais enigmáticos ainda para a platéia que assistiu à palestra de Pimentel na Conferência Internacional do Mesotelioma, de 8 a 11 de junho de 2008, em São Paulo. Ele chegou a chorar ao microfone. "Muito emocionado, o Antonio Pimentel contou que o pai tinha sido um dos descobridores do amianto na Bahia, não havia recebido o quanto merecia pelos serviços prestados e havia morrido de asbestose, com longo sofrimento. Também que o suporte médico da SAMA/Eternit deixou muito a desejar", relembra Sérgio Grusca. "Disse ainda que a mãe estaria sofrendo dos mesmos problemas do pai [asbestose], por lavar as roupas do marido."

Grusca é também de Minaçu. Veio à Conferência Internacional de Mesotelioma, em São Paulo, a convite de Pimentel, que foi quem o apresentou ao movimento anti-amianto. Grusca desconhecia totalmente a existência da Associação Brasileira dos Expostos Amianto (Abrea).Trabalhou na SAMA de 1975 a 1983; era encarregado de mecânica, Pimentel e o irmão Airton, o "Bigode", mecânicos.

Pimentel, versão 2009
Por e-mail, esta repórter contatou Pimentel em 10 de março, às 22h31, para conversar sobre as acusações. Às 22h48 -- 17 minutos depois -- , retornou: "sim!!! podemos conversar sim!!! e so você me ligar meu numero e 62xxxxxxxx!! (sic)"

No dia 11, após tentativas com breves diálogos - "a ligação está ruim"; "não estou escutando", fingia Pimentel -- a entrevista ficou para as 19hs. De Minaçu, simulando de novo não estar ouvindo direito -- "esse aparelho está com problema" --, pediu para que lhe telefonasse para outro número. A repórter aquiesceu, sabendo o "motivo". Pimentel foi questionado sobre vários pontos.

Acusações à Fernanda Giannasi
Pimentel - ... Ela vê uma pessoa com dor na perna, diz que é asbestose [ou "pulmão de pedra"; endurece progressivamente os pulmões, levando à morte lenta]. A pessoa sente dor nas costas, ela diz que é mesotelioma [tumor maligno que pode atingir as membranas que recobrem o coração, diafragma, peritônio e abdômen] ...

-- Mas o senhor disse que ela fez vocês de otários, enganou os trabalhadores fazendo propostas milionárias de indenização.
Pimentel - Veja bem. Ela sempre fala com meias palavras. No particular, ela incita os trabalhadores, dizendo que a única forma de fechar esta mina, de acabar com os criminosos do amianto - é como ela chama o pessoal do amianto -- é a indenização milionária... Que na Europa se fez assim... As pessoas já estão começando a entrar na paranóia de que iam ficar milionárias...

-- Mas a Fernanda fez promessa de indenização milionária?
Pimentel - Bem, ela fala que tem que fechar a empresa por esses meios, fazendo a empresa pagar. Então está fazendo proposta...

-- Mas quem falou sobre valores de indenização não teria sido o procurador [Antonio Carlos Cavalcanti Rodrigues, Procurador do Trabalho, em Goiás] que foi junto a Minaçu?
Pimentel - Ele não falou nada para mim... Eu ouvi falar. Como eu já lhe disse anteriormente, quando ela fala com a gente, ela diz que a indenização tem que ser alta porque é a única forma de fechar uma empresa como a SAMA. Na Europa, foi assim...

-- Mas o senhor falou que a Fernanda é maluca, enganou vocês.
Pimentel - Bem, isso é forma de expressar.

Presidência da Agea
Pimentel - Ela veio aqui e me colocou de presidente da associação... É do pessoal que trabalhou aqui nos anos 60, 70 e 80, quando o grupo era Brasilit. Não tinha a tecnologia que tem hoje que protege o trabalhador com mais segurança... Eu vi que a coisa não era bem aquilo que eu achava... Hoje eu não sou presidente da Agea nem estou ligado. Até por que como eu vou ser presidente de uma associação que não tem nem nunca teve respaldo logístico?

Pimentel - Ela nunca deu assistência nenhuma a essa associação, não existe nada aqui, nenhuma sede. Só fica mostrando pessoa com amianto para denegrir a imagem da empresa. Então, não tem outra coisa... É só ficar procurando pessoa que muitas vezes não tem a doença para dizer que tem. O interesse dela é só fechar a SAMA. Não tem interesse em ajudar ex-trabalhador. Ela tem necessidade de fechar a empresa... Eu nunca tive apoio...

-- Que tipo de apoio?
Pimentel - Apoio...Eles [da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea)] só falam em banir amianto.

Risco do amianto
Pimentel - A gente sabe que faz mal à saúde quando se trabalha de forma irresponsável. Agora, do jeito que se faz aqui, não. Até porque o amianto aqui é crisotila. Não é o anfibólio que foi banido na Europa há muitos anos.

-- Então o senhor acha que o amianto hoje não traz nenhum problema à saúde?
Pimentel - Acho que não traz... Se fosse do jeito que ela fala, pelo menos 20 mil pessoas já estariam condenadas aqui... Mas se você vier aqui, vai ver que isso não existe. Não existem esses dados alarmantes que ela diz... Eu, por exemplo, nasci na mina na Bahia... brincava no meio do pó de amianto... trabalhei na época em que não tinha proteção nenhuma... Se tivesse que morrer com mesotelioma ou asbestose, já tinha morrido há muito tempo.

Pimentel - Em que literatura está escrito que pessoa que comprou telha de amianto morreu? Em São Paulo, por exemplo, 80% das residências têm amianto. Eu nunca ouvi dizer que essas casas mataram centenas, milhares de pessoas, porque têm telhado, caixa d'água de amianto. Isso não existe em lugar nenhum... Ela disse na Europa iriam morrer 500 mil pessoas de asbestose, de mesotelioma... Eu nunca vi esses dados em jornal, em nenhum lugar. Quer fazer o povo de bobo?

Pimentel - O cigarro mata. Dá câncer. Mas ninguém fala em bani-lo... O amianto é um mineral como o cimento, o carvão... Se a gente for fechar a SAMA por problema de saúde, nós vamos ter que fechar muitas outras indústrias...

Doença do pai e a mãe
Pimentel - A minha mãe [dona Lúcia] tinha uma tosse... A Fernanda Giannasi levou os exames para o Instituto do Coração... Ela ficou de me dar uma resposta se era problema do amianto... Ela como especialista do assunto, deveria ter me retornado. E não me retornou...

-- É verdade que seu pai [Zacarias Pimentel] morreu por causa de doença do amianto?
Pimentel - Meu pai morreu com 82 anos...Trabalhou na mina... Bem velhinho. Aqui já tem gente que já morreu... Meu pai de fato teve asbestose. Morreu com 82 anos de idade. E, aí, como é fica, o cigarro mata a pessoa em 10, 15 anos?

Traição, dinheiro, filho
Pimentel - ...Se você pegar aquele jornal da Câmara [dos Deputados, em Brasília], vai ver deputado chorando... É um discurso de político. Você pode ter uma opinião. Você descobre que aquela sua opinião não é exatamente aquilo..., você pode mudar.
Pimentel - Ela me chamou de mentiroso, traidor, que eu me vendi... Eu nunca me vendi para ninguém... Eu nunca fui comprado por ninguém. Eu não tenho um centavo de ninguém nem conta bancária nem em lugar nenhum.

-- O senhor não tem medo de o seu filho vir a ter problema por causa do amianto?
Pimentel - Não. Como eu já te disse, se a empresa trabalha de forma responsável, o amianto não traz problemas.

*****

"Ela" a que se refere Pimentel é Fernanda Giannasi. Quem leu outras matérias do Viomundo sobre amianto, talvez tenha ficado com a sensação de já ter ouvido esse discurso antes.

Pinçamos então estas falas da reportagem Aldo Vicentin, mais uma vítima do amianto. Avalie você mesmo (a):
Marina Júlia de Aquino, presidente do Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC): "...a crisotila não é cancerígena, ao contrário do anfibólio ... Hoje, com certeza, os trabalhadores não têm risco". O IBC, relembramos, é a instituição que faz lobby a favor dos interesses da indústria do amianto.

Élio Martins, presidente do Grupo Eternit: "Por volta de 1980, passamos a trabalhar só com a crisotila, fizemos altos investimentos em medidas de proteção e eliminamos todos os riscos da atividade profissional. De lá para cá, não temos nenhum trabalhador doente nas nossas fábricas nem na nossa mineradora... Não temos nenhum caso no Brasil de pessoa que usou telha ou caixa d'água com amianto e teve problema de saúde" .

O site da Eternit, na seção Perguntas mais freqüentes, reforça o discurso: ...Os trabalhadores das indústrias que seguem as regras do uso controlado estão totalmente seguros. O Grupo Eternit é o maior do setor de amianto no País. A SAMA faz parte dele.

O discurso de Pimentel, agora, segue na linha do que dizem os presidentes da SAMA/Eternit e do IBC. Ou será que Élio Martins e Marina Júlia de Aquino é que repetem Pimentel?

O fato é que:
1) Antonio Ramos Pimentel é oficialmente presidente da Agea desde outubro de 2007. A ata da fundação comprova.

2) Imediatamente após os ataques de Pimentel à Fernanda Giannasi, familiares de vítimas do amianto saíram em defesa da engenheira, inclusive com comentários no Viomundo. Um deles, em 1º de março, é de Lúcia Marques, filha de Manoel de Souza e Silva Júnior, 65 anos, o "Português", que trabalhou na SAMA de agosto de 1982 a novembro de 1996. O seo Manoel morreu em agosto de 2008 em decorrência de câncer no pulmão provocado pelo tabagismo e pelo amianto.

"Sou filha de vítima do amianto, mas não sou vendável como o coitado do Pimentel que se vendeu por um empreguinho para seu filho", denuncia Lúcia Marques. "Tenho vergonha de você. Tudo o que você disse contra a SAMA está gravado. Essa estratégia de dar emprego a filhos, netos de vítimas do amianto é praxe na SAMA. No final do ano, o filho de seu Pedro, vítima que passava por dificuldades financeiras, foi contratado. É a maneira de silenciar a verdade."

"Pimentel, o que você fez foi um golpe para todas as vítimas do amianto que se foram sem justiça, muitas sem sequer ter conseguido provar a sua doença, pois a SAMA/Eternit não fornece os exames aos funcionários", repete Lúcia, em entrevista. "A Fernanda Giannasi fala a verdade. Ela não ilude ninguém, nunca a ouvi falar em indenizações milionárias. O Brasil inteiro conhece os problemas do amianto graças a ela. Só que, em Minaçu, a SAMA e as autoridades locais insistem em ignorá-los. Dizem que não há dados. Na verdade, eles manipulam os dados. Sabia que, enquanto você defende a SAMA, ex-trabalhadores têm-me procurado porque não estão recebendo remédios e a aposentadoria especial a que têm direito?"

Lúcia Marques é professora em Minaçu e membro da Agea. Confirmamos com dona Aparecida, esposa do seo Pedro, encostado há seis anos por problemas de saúde devido ao amianto, o que Lúcia disse. Vinícius, filho do seo Pedrinho (como é conhecido na cidade), conseguiu emprego como auxiliar administrativo na J. Campos, uma das empresas terceirizadas da SAMA, localmente chamadas de "gatas".

E a informação sobre o filho do Pimentel? Nos comentários no Viomundo, Pimentel nunca desmentiu Lúcia Marques sobre "o empreguinho para o seu filho". Na entrevista, também não tocou no assunto. Mas se fazendo de sonso "bonzinho", deu o troco. Sem mais sem menos introduziu o seo Manoel:
"-- A SAMA nunca negou pra ninguém que amianto faz mal, nunca negou que amianto faz. Inclusive alertou muitas pessoas que não podia fumar. É até proibido fumar dentro da área industrial, na época em que eu trabalhava lá já alertava. Tinha até o seo Manolo, Manoel, que morreu vítima aí... de mesotelioma. O seo Manoel era o cara que mais fumava cigarro lá dentro da SAMA. Eu não estou alegando aqui que ele morreu por causa do cigarro, estou dizendo que ele fumava bastante. E a empresa alertava as pessoas que fumar, que o fumo associado ao amianto era duas ou três vezes mais prejudicial à saúde".

Cigarro dá câncer no pulmão. Amianto também. A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer - a IARC --, acaba de reafirmar o que já se sabia: há evidências suficientes de que todas as formas de amianto - inclusive a crisotila -- causam câncer de pulmão, mesotelioma, laringe e ovário em seres humanos.

Se a pessoa fumar e ainda trabalhar com amianto tem - atenção! -- 57 vezes mais risco de desenvolver câncer no pulmão. Foi o que aconteceu com Manoel. Ele não teve mesotelioma.

Mas enfiá-lo na história pra quê? Manoel não está mais aqui para se defender. "Vender" subliminarmente a idéia de que o câncer dele foi por causa do cigarro e não devido ao amianto também é a tese da SAMA, para não pagar a indenização à família.

A mulher ameaça
Tentamos novo contato com Pimentel para tirar a limpo a história do emprego ao filho na SAMA ou talvez em uma das empresas terceirizadas.

Quem atende o celular de Pimentel é a mulher dele, Raquel, que, com rispidez, ameaça:

Raquel - O que você quer com ele?
-- Esclarecer alguns pontos da entrevista.

Raquel - Você vai publicar aquela conversa?
-- Sim, eu fiz uma entrevista, e o senhor Pimentel sabia disso.

Raquel - Nós gravamos a sua ligação, viu? Hoje em dia a gente tem que fazer assim...

Bingo. O "aparelho quebrado", na entrevista do dia 11 de março, era metira. O motivo real era, como supúnhamos, a gravação da entrevista por parte de Pimentel.

Parêntese. Raquel é irmã de Amilson Seabra Campos, defensor feroz do mineral cancerígeno. Na matéria Lemes: denúncia da emissora sobre amianto foi para a gaveta ele bateu duro: " Fernanda Giannasi você quer guerra? Eu conheço todos os seus podres aqui em Minaçu... Eu tenho gravação sua, que eu gravei na casa minha sogra, quando você fez uma proposta corrupta para meus cunhados aqui em Minaçu..."

Em 2004, Amilson foi candidato derrotado a prefeito de Minaçu pelo PFL, hoje DEM. Teve uma única doação de campanha contabilizada: 40 mil reais da mineradora SAMA, que financia vários deputados federais e senadores de Goiás - a chamada bancada da crisotila. Antes Amilson Seabra Campos havia sido vereador. Em 2008, o Ministério Público do Estado de Goiás denunciou-o. Os promotores de justiça Augusto Reis Bittencourt Silva e Juan Borges de Abreu propuseram ação civil pública por improbidade administrativa devido a irregularidades na Câmara Municipal de Minaçu, em 2003, durante a gestão de Amilson na presidência da Casa. Atualmente ele é o secretário do Meio Ambiente de Minaçu.

Amilson "sumiu" do Viomundo. Seu posto foi assumido pelo cunhado Pimentel e pseudônimos, entre os quais Jota-Jota, que estranhamente só aparecem nas matérias de amianto. Um exemplo. Na matéria Carlos Minc bane o amianto no Ministério do Meio Ambiente , Jota-Jota, depois de chamar o ministro de "babaca", diz: "... INVESTIGA ESSA ESQUISOFRÊNICA DA GIANNASI, DESCOBRE QUEM ESTÁ FINANCIANDO ELA, E BOTA ELA NA CADEIA, POR FAVOR ".

Após a rápida conversa com Raquel, o celular de Pimentel passou a ficar na caixa-postal. O jeito foi recorrer a e-mails. Foram três, reiterando as perguntas: O que o senhor tem a dizer sobre a acusação da Lúcia de que o senhor "se vendeu por um empreguinho para seu filho"? É verdade que o seu filho passou a trabalhar na SAMA em troca do senhor passar a defender o amianto?

Metamorfose
"Na verdade, eu comecei a estranhar o comportamento do Antonio Pimentel ainda em São Paulo durante o congresso de mesotelioma, em junho de 2008", relembra Sérgio Grusca. "Combinamos que ele traria para Minaçu uma ou mais caixas com material variado para a campanha antiamianto. Após uns quinze dias, telefonei-lhe, perguntando do material. Ele disse que havia comprado um carro e traria para mim. Ele esteve em minha casa umas duas vezes. Quando eu perguntava sobre o material, dizia que tinha esquecido, que tinha distribuído muito, mas ainda havia sobrado bastante."

"Após isso, notei frieza no telefone tanto por parte dele quanto da esposa, dona Raquel, que dizia "o Antonio saiu, o Antonio viajou", conta Grusca. "Certa ocasião, Antonio tinha ido à casa da filha. Só que para ir lá, tinha que passar perto da minha. Ficou na cara demais que ele se escondia de mim."

"Uma vez ele estava no Messenger, cliquei na hora para evitar desculpas posteriores", indigna-se Grusca. "Diante minha pergunta sobre o material e o sumiço dele [Pimentel], disse que estava trabalhando no Espírito Santo e não sabia mais do material. É como a música do Cauby Peixoto: o material ninguém sabe, ninguém viu. ‘Evaporou-se'. Agora, a gente sabe porquê."

Desmascarado amianto
Pimentel é um dos dez filhos de Zacarias Pimentel. No livro O amianto crisotila e a SAMA, Zacarias é mostrado como desbravador e o grande descobridor das jazidas mais importantes de amianto no Brasil. Já a serviço da SAMA é apontado como quem detectou, em dezembro de 1961, a ocorrência de crisotila (amianto branco) no morro da Cabeçuda, Norte de Goiás. É por aí que se vai chegar ao que hoje se conhece como Minaçu, na serra de Cana Brava, uma das maiores jazidas de amianto crisotila do mundo.

Zacarias Pimentel é uma das milhares de vítimas do amianto no Brasil. Ele dedicou a vida a essa indústria. O que ganhou? A carta de Zacarias a Carlos Ostronoff, engenheiro politécnico responsável pela pesquisa de lavra da SAMA, fala por si só:


Anápolis, 28 de abril de 1986

Ilmo. Sr. Carlos Ostronoff
SAMA -GO

..ajudei a construir este império, que si está, lutei em defesa da SAMA, e hoje sinto me abandonado e doente. Estou com 80 anos de idade, sinto-me sem forças para algum trabalho, ainda por cima encontro-me doente, sem condições para um tratamento sério.

Semana passada quase morri, pois, os médicos que me atenderam, depois de uma série de exames, constataram que estou acometido de uma doença INCURÁVEL que sé denomina ASBESTOSE, doença esta proveniente do AMIANTO, não estou mentindo, porque não sou disto, pois, tenho em meu poder várias chapas e laudos e declarações médicas, falando sobre está doença". "Se V. Sa., quiser ver os laudos médicos e chapas eu os mostrarei, pois, não tenho forças para dirigir até SAMA. Fui examinado pelos melhores PNEUMOLOGISTAS de Anápolis e Goiânia acho que lês não estão mentindo.

Olha, o que Ganho mau dá para comer juntamente com minha mulher, estes dias que fiquei enternado, precisei de ajuda financeira de amigos para pagar o hospital e consultas. Tanto os médicos de Goiânia e Anápolis disseram que preciso de fazer um tratamento sério.

Meus últimos dias só FADIGA E DOR; Minha respiração é muito precária. Sei que estou me acabando devagarzinho

..só peço a DEUS que os guarde e que não venha passar ou sofrer por este mau incurável
Ass. Zacarias Pimentel

O laudo do Hospital Evangélico Goiano, de Anápolis, é taxativo: "Declaro, para os devidos fins, que o Sr. Zacarias Pimentel esteve internado sob os meus cuidados profissionais no período de 16.04.86 a 23.04.86 ...ilegível....quadro de Insuficiência Respiratória Aguda, associada a Enfisema pulmonar avançado e pneumoconiose extensa devida a asbestos".

Em 18 de janeiro de 1988, aos 82 anos, Zacarias Pimentel faleceu no Hospital Evangélico Goiano. Atestado de óbito aponta como causa mortis: Insuficiência respiratória. Doença pulmonar obstrutiva.

A revolta de um dos filhos de Zacarias se expressa nesta troca de e-mails no primeiro semestre de 2008 com Fernanda Giannasi, fundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto e figura fundamental para a criação da Associação Goiana dos Expostos ao Amianto, em outubro de 2007. O filho em questão é justamente Antonio Ramos Pimentel, primeiro presidente da Agea. Até hoje não renunciou nem se desligou oficialmente; muito menos devolveu os documentos e livro de atas da associação.

(Por Conceição Lemes, Blog Vi o Mundo, 11/04/2009)