Qual é a melhor estratégia, especializando-se em uma cultura ou culturas diversificadas? Cultivo convencional é mais rentável do que a agricultura biológica? É menos arriscado? São questões permanentes na agricultura e, no Brasil em especial, elas são extremamente importantes, considerando que, desde o período colonial, mantemos a tendência de optar por cultivo de monocultura intensiva em vastas áreas. Com ligeiras adaptações, o modelo coronelista da monocultura em latifúndio ainda permanece.
Para responder a estas questões, pesquisadores da Universidade de Wisconsin, College of Agriculture and Life Sciences e do Michael Fields Agricultural Institute, Wisconsin Integrated Cropping Systems Trial (WICST), testaram as diversas combinações de cultivo, na tentativa de identificar a sua rentabilidade. No caso da pecuária, os pesquisadores, avaliando dados em dois locais no sul do Wisconsin, entre 1993-2006, confirmaram que a criação orgânica em pastagens é mais rentável do que a criação confinada, alimentada à base de ração e forragens.
No caso brasileiro, nossa pecuária, majoritariamente, adota o modelo extensivo em pasto. A pecuária é o maior e mais importante fator de devastação na Amazônia, sendo que, em 2007, 35% do rebanho bovino nacional estava na Amazônia Legal. O estudo também demonstrou que a produção orgânica e diversificada também é mais rentável do que a tradicional. Mesmo que a produção nominal seja menor, a produção orgânica e diversificada possui mais valor, oferece maior receita líquida e reduz os riscos associados às monoculturas.
Os pesquisadores, avaliando informações do cinturão agrícola dos EUA, o meio-oeste, determinaram que os sistemas orgânicos são mais rentáveis do que os padrões intensivos das monoculturas de milho e soja, além da alfafa, destinada à alimentação animal. Este estudo indica que a política pública que apóia as monoculturas está obsoleta e deve ser transferida para apoiar programas que promovem as rotações de culturas e as práticas da agricultura biológica.
Se isto é verdade nos EUA podemos concluir que ela é especialmente verdade no Brasil. Como afirmei anteriormente, nossas políticas públicas, desde o período colonial, são focadas no incentivo às monoculturas, especialmente de exportação. No entanto, mais de 60% de nossa alimentação cotidiana é produzida pela pequena agricultura, pela agricultura familiar e pelos assentamentos da reforma agrária que, no entanto, recebem 1/3 dos recursos públicos destinados às monoculturas.
A clara compreensão das diferenças entre produção x produtividade e receita bruta x receita líquida são fundamentais para uma avaliação correta das vantagens da agricultura orgânica e/ou da produção agroecológica. Sem esta compreensão os ‘números’ podem ser enganadores, como demonstra o crescente endividamento dos produtores de monoculturas.
O artigo “Organic and Conventional Production Systems in the Wisconsin Integrated Cropping Systems Trial: II. Economic and Risk Analysis 1993–2006″, publicado na edição online do Agronomy Journal, da American Society of Agronomy (ASA) está disponível para acesso integral no formato HTML.
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Henrique Cortez Weblog, com informações de Sara Uttech, American Society of Agronomy, 13/04/2009)