Para facilitar serviço, serão instaladas "ecobarreiras" flutuantes nos pontos críticos da Guarapiranga
Enquanto os novos barcos não entram em operação e a coleta de lixo é feita "na mão", o trabalho dos catadores de lixo na Represa do Guarapiranga é penoso e cheio de surpresas. Munidos com um garfo-arpão e luvas, os catadores navegam em dois barcos, que andam juntos. O menor, a motor, serve para se alcançar as margens, em meio a um mar de plantas aquáticas. O maior sai vazio e volta carregado de sacos de lixo. Em meio aos aguapés, a primeira luta é contra os mosquitos. Depois, o sofrimento é para afastar as plantas, chegar ao lixo e apanhar a sujeira presa nas raízes.
Para facilitar os serviços, além da entrada em operação das novas embarcações, um projeto da Sabesp, que sai do papel ainda neste mês, é instalar "ecobarreiras" flutuantes, feitas com tambores vazios, para reter a sujeira perto da foz dos córregos e ribeirões que deságuam na represa.
Um dos pontos mais críticos da represa é a foz do Córrego Guavirituba, próxima da Riviera Paulista. Ali, em cinco minutos, 12 sacos são recolhidos. "Outro dia, achamos uma fantasia de carnaval usada e, uma vez, encontramos um par de chifres, daqueles que o pessoal coloca para decorar paredes", conta Fernando Aguiar, piloto de barco, há oito anos na represa, e há dois trabalhando na coleta dos resíduos nas margens.
Entre a média de 50 sacos por dia, cada um com 100 litros, retirados das águas (em fevereiro), a lista é extensa: bolas, brinquedos, cachorros e cavalos mortos - "outro dia tinha um pit bull ainda acorrentado", diz Aguiar - máquinas, carrinhos de bebê, chuveiros, restos de móveis, pneus, televisores, rádios, uma copiadora de xerox, peças de automóveis. Perto da Avenida Presidente Kennedy, marrecos, patos e outros animais aquáticos nadam em meio a garrafas pet e sujeira. Com a represa cheia - a Guarapiranga estava com 90% do nível, na semana passada - todo o entulho fica acumulado nas margens, à vista de todos.
Esgoto
A maior parte dos artigos, porém, não é deixada pelos frequentadores, mas atirada nos afluentes - os Rios Embu-Mirim, Embu-Guaçu, Bonito e Parelheiros e os Córregos Guavirituba e Itupu. Além do lixo, poluentes industriais, areia e óleo de veículos, eles também carregam esgoto para a represa. A previsão da Sabesp é despoluir os cursos d'água até o fim de 2012.
De dois anos para cá, o Projeto Córrego Limpo, em parceria com a Prefeitura, investiu R$ 18,5 milhões na limpeza, que já contempla o tratamento de 70% do esgoto lançado nos córregos e, por consequência, na represa. A intenção, segundo os governos do município e do Estado, é resgatar a vocação do Guarapiranga como centro turístico para a classe média.
(Por Daniel Gonzales, O Estado de S. Paulo, 13/04/2009)