Há apenas dois anos, o mundo resplandecia de otimismo com um renascimento da energia nuclear. Ao lado dos fabricantes de reatores e processadores de combustível, a maneira como os investidores aproveitaram o boom foi comprar ações de mineradoras e até mesmo urânio físico. Os preços do urânio concentrado no mercado à vista subiram de US$ 7 a libra-preso em 2000 para o recorde de US$ 138 em 2007. Depois do esforço das companhias de serviços públicos para garantir a demanda, um excesso de oferta derrubou os preços no mercado à vista para US$ 42.
Mas os preços podem estar atingindo o fundo do poço, enquanto as pequenas mineradoras lutam para cobrir seus custos, as grandes (como a Areva) recuam em projetos e as companhias de serviços públicos buscam pechinchas. O destino dos projetos incipientes, muitos deles na África e Ásia, também parece incerto. Isso deixa o maior produtor (e o que tem os custos mais baixos), a Cameco do Canadá, com 18% da oferta, considerando opções de aquisições.
Enquanto isso, o pedido de Barack Obama para que milhares de ogivas nucleares sejam desativadas, não terá efeito algum sobre os preços, uma vez que a capacidade mundial de empobrecimento do urânio já está amarrada pelo programa "Magatons to Megawatts" dos EUA e Rússia.
Na medida em que a ressaca da bolha for passando, há poucas dúvidas quanto ao crescimento da demanda por combustíveis nucleares, com as ogivas representando apenas ofertas marginais. Hoje, 436 reatores produzem 370 gigawatts, ou 15% da eletricidade mundial. Em razão dos aperfeiçoamentos dos projetos de reatores e das preocupações com o aquecimento global, a Agência Internacional de Energia Atômica diz que a produção poderá quase dobrar até 2030. Preços como os de 2007 provavelmente não voltarão, mas a sacudida do momento poderá proporcionar aos mineradores prudentes massa crítica para o sucesso.
(Financial Times /
Valor Econômico, 13/04/2009)