A falta de água atinge, mais uma vez, municípios do Oeste, Meio-Oeste e do Planalto Norte do Estado. Trinta e uma cidades já decretaram situação de emergência. O problema ameaça paralisar aulas, construções e o abate nas agroindústrias.
Na semana passada, a Escola Leonel de Moura Brizola, que funciona em tempo integral, teve de liberar os alunos duas tardes devido à falta de água. Outras cinco escolas tiveram problemas por causa da seca. A prefeitura adquiriu 137 bombonas de 20 litros de água mineral e levou 38 cargas de água em caminhão-pipa para as escolas.
Oito cidades estão com dificuldades no abastecimento urbano: São Miguel do Oeste, Maravilha, Cunhataí, Guaraciaba, Jardinópolis, Anchieta, Bandeirante e Chapecó. A situação mais difícil é em Chapecó, cidade mais populosa do Oeste, com cerca de 170 mil habitantes.
– É a situação mais grave vivida pela cidade – disse o supervisor de negócios da Companhia Catarinense de Água e Saneamento (Casan) no Oeste, Paulo Christ.
Ele informou que o reservatório da barragem do Engenho Braun, no Lajeado São José, está com menos de 30% da capacidade, o que daria para o consumo de três a quatro dias. Para tentar minimizar a situação, foram contratados 30 caminhões para puxar água do Rio Uruguai.
A Secretaria de Agricultura de Chapecó também está transportando cerca de 150 litros por dia para propriedades do interior, com dois caminhões. De acordo com o secretário titular da pasta, Mauro Zandavalli, cerca de 200 propriedades estão com problemas de abastecimento para o consumo humano e animal. Ele afirmou que o município deve contratar mais dois caminhões e que as localidades mais atingidas são as próximas aos rios Uruguai e Irani.
Mês mais seco em 40 anos de medição
A estação meteorológica da Epagri em Chapecó registrou apenas 17,1 milímetros de chuva no mês de março, o que representa 13,7% da média histórica. De acordo com o observador meteorológico Francisco Schervinski, foi o mês de março menos chuvoso em 40 anos de registros em Chapecó. Em abril, choveu apenas 11 milímetros, insuficiente para alterar a situação.
Há dias, a dona de casa Jussara Pereira tem usado num córrego do Bairro São Pedro, onde mora, para lavar a roupa dos três filhos.
– Fiquei sem água. A gente tem que inventar de tudo – explicou.
O problema da seca é recorrente no Oeste. No dia 12 de abril de 2008, o Diário Catarinense publicou reportagem sobre o caso. Na época, eram 41 municípios em situação de emergência. Para o diretor de recursos hídricos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, Flávio René Brea Victoria, Santa Catarina precisa investir na infraestrutura de recursos hídricos.
– O que estamos fazendo agora é apagar incêndio – disse o diretor.
Victoria, que é doutor em Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos, disse que o governo está planejando ações na infraestrutura na redução da poluição das águas. Em Chapecó, por exemplo, ele afirmou que há necessidade de buscar outra alternativa de captação de água, pois o Lajeado São José não dá mais conta de atender a demanda.
A Casan chegou a fazer um desassoreamento da barragem no ano passado, em parceria com a prefeitura, mas a medida não foi suficiente. Por isso, a estatal está iniciando um estudo para captar água em rios maiores, como o Irani, Chapecó ou Uruguai.
Victoria disse que o Estado está realizando um diagnóstico dos recursos hídricos, para definir investimentos em poços, açudes e redes de captação de água. Cerca de R$ 5 milhões estão sendo investidos num sistema de monitoramento hidrológico e climatológico e R$ 4,5 milhões num mapeamento hidrogeológico do Estado.
(Por Darci Debona, Diário Catarinense, 11/04/2009)