Um inquérito foi aberto pela Justiça da Itália para apurar se, nos últimos 40 anos, houve violação das leis de prevenção a terremotos na construção civil em Áquila, a cidade mais devastada pelo forte terremoto desta segunda-feira (6) que matou mais de 280 pessoas.
O procurador de Áquila, Achille Rossini, abriu a investigação, ainda que, por enquanto, trate-se apenas de uma formalidade. O tribunal ficou inutilizável, e todo o pessoal está concentrando seus esforços na situação de emergência, publicou o jornal italiano "La Repubblica", na edição desta quinta-feira.
A Justiça quer determinar as razões pelas quais importantes prédios públicos, entre eles o hospital San Salvatore, a sede da Prefeitura, a Casa do Estudante e o quartel do Corpo de Carabineiros, sofreram graves danos materiais ou desabaram por completo.
"É justo que os juízes investiguem, embora não ache que tenha sido cometido um crime. O que pude notar, pessoalmente, é que os edifícios que desabaram estavam construídos com a tecnologia de sua época", declarou nesta quinta-feira o premiê, Silvio Berlusconi, na inspeção diária que vem fazendo na área afetada pelo sismo.
"Na época, usava-se cimento que não era confiável e um tipo de ferro que não possui a resistência dos aços que são utilizados hoje", disse Berlusconi, que começou sua carreira empresarial com o setor de construção civil.
Poucos dias depois da tragédia, o país foi agitado pela polêmica sobre a violação, ou falta de aplicação, das leis antiterremotos na península. "Um terremoto, como o desta segunda-feira, se tivesse acontecido na Califórnia, nos Estados Unidos, não teria deixado nenhum morto", disse à imprensa o presidente da Comissão de Altos Riscos, Franco Barberi.
O fato é que a queda de importantes edifícios públicos, construídos na década de 1970, como o da prefeitura de Áquila, alarmou arquitetos e especialistas.
O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, que visitou a região nesta quinta-feira e, nesta sexta-feira (10), participará das cerimônias fúnebres de Estado em Áquila, declarou que "existem responsáveis" pela tragédia. "Ninguém está isento de culpa. Muita gente participou da construção dos edifícios que caíram. É necessário fazer um exame de consciência, sem discriminação, nem matiz político, para evitar que casos como esses se repitam."
Já o Conselho Nacional de Arquitetura reivindicou um plano urgente para a segurança de amplos setores de várias cidades italianas.
(
Folha online, 09/04/2009)