"Nós queremos dialogar, participar e fazer parcerias". As palavras de Bradley Stewart Young, descendente da comunidade indígena Opask-wayak, sintetizam o sentimento de boa parte das nações indígenas que povoam o território canadense. Com sua longa trança minuciosamente trabalhada e um Blackberry nas mãos, Young conta que tem dedicado boa parte de seu tempo a negociações que envolvem as nações indígenas da região de Hinton e o interesse das petroleiras em explorar suas terras.
Em Hinton, tecnologias de última geração passaram a ser ferramentas estratégicas para os índios na hora de negociar com as empresas e decidirem se determinada região poderá ou não ter seus campos perfurados, e de que forma isso será feito. Com o uso de sistemas de georeferenciamento, os índios acessam um grande banco de dados instalado no Foothills Institute. "O cruzamento de dados permite que nós enxerguemos qual será o impacto ambiental em determinada região e se vale a pena ou não explora-la", diz Young. "Não somos contra o desenvolvimento, mas é preciso que haja respeito à natureza e às nações indígenas."
O governo canadense tem registradas aproximadamente 540 mil pessoas com status de índio, mas estimativas das próprias comunidades indígenas apontam que atualmente as chamadas "First Nations (Primeiras Nações, na tradução literal) já somam mais de 3,2 milhões de pessoas no país. Quando um índio é "registrado", ele passa a ser reconhecido como tal pela lei federal do país, o que lhe garante certos benefícios e deveres como cidadão. Cerca de 55% dos índios registrados do Canadá vivem hoje em reservas demarcadas. Há mais de 2,2 mil reservas espalhadas pelo país, a maioria delas em zonas rurais ou em áreas de difícil acesso.
Na busca pela areia betuminosa, as petroleiras têm que manter diálogos constantes com as comunidades indígenas. Na Província de Alberta, metade da população indígena já vive em grandes cidades, como Calgary e Edmonton. A outra metade está distribuída em 46 reservas, muitas delas fixadas sobre os campos de areia betuminosa. É este o caso da comunidade Siksika. Localizada a cerca de 70 quilômetros de Calgary, a Nação SikSika (o nome significa pés pretos) soma 6 mil habitantes.
Leroy Good Eagle, atual chefe dos Siksika, conta que a comunidade tem travado uma disputa constante com o governo da província de Alberta para se transformar em um distrito independente e não mais sujeito ao "The Indian Act", lei federal que a comunidade teria sido forçada a assinar em 1876. "Queremos ser livres para tomar nossas próprias decisões e cuidar do que é nosso", diz Good Eagle. Os siksikas, diz ele, têm desenvolvido uma série de estudos em busca de uma "economia sustentável" que favoreça a natureza e seu povo. Boa parte dessas pesquisas estão atreladas à indústria de óleo e gás.
(Por André Borges,
Valor Econômico, 09/04/2009)