“As propostas do Brasil em resposta ao pedido paraguaio para renegociar o Tratado de Itaipu são insultantes e inaceitáveis”. Foi o que afirmou, nesta terça-feira (07), o deputado do Parlamento do Mercosul e coordenador da equipe paraguaia de negociação, Ricardo Canese. A resposta de Canese deve-se às declarações do diretor brasileiro da binacional, Jorge Miguel Samek, que afirmou, à Agência EFE, que o Brasil receberá “felicitações” caso o diferendo entre Brasil e Paraguai seja levado aos tribunais e que o Paraguai não está “pagando nada” da bilionária dívida da entidade.
A respeito, o negociador paraguaio descartou os argumentos de Samek e ressaltou que “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre mostrou boa pré-disposição ante às reivindicações paraguaias. O problema encontra-se na chancelaria do vizinho país, que representa o setor duro do Brasil”. “Os diplomatas do Itamaraty utilizam a prepotência imperial como uma estratégia, porque não podem impor suas propostas, que são insultantes e inaceitáveis. As negociações políticas com o mandatário brasileiro sempre vão bem, porém, empantanam-se quando intervêm os do Itamaraty”, disse.
As frases de Samek, taxadas de “infelizes” pela imprensa paraguaia, irritaram também seu colega de direção, o diretor paraguaio de Itaipu, Carlos Mateo Balmelli. Em declarações reproduzidas pelo Diário Última Hora, Mateo pediu ao diretor brasileiro que mantenha-se em silêncio. “O parecer de Samek é o parecer de um setor possivelmente duro, composto pelo setor elétrico e energético brasileiro, e foi a expressão de um grupo que pensa dessa maneira, mas não creio que seja a posição oficial do presidente Lula, por várias razões”, argumentou.
“De ser certo o que diz Samek, não se entenderia ou seria uma contradição que Lula tenha aceito a mesa de diálogo e de negociação sobre Itaipu e, em segundo lugar, tenha feito uma oferta de compensação por cessão de energia”. “É uma falácia o argumento de que a dívida é paga apenas pelo Brasil. A dívida é paga por Itaipu, vendendo sua energia [...] Quando Samek diz que o Brasil colocou todo o dinheiro, quero dizer-lhe e recordar-lhe, com todo o respeito, que há uma legitimidade nas reivindicações paraguaias”.
Mateo completou seu raciocínio agregando que “eu creio que é importante que, antes de uma cúpula presidencial [o encontro entre os presidentes Fernando Lugo e Lula está marcado para o próximo dia 29], os funcionários de segunda linha não falem com tanta veemência”. “Quero recordar ao meu colega Jorge Samek que já passaram as épocas em que o maior fazia o que queria e o pequeno sofria o que devia”, complementou o diretor paraguaio.
Crítica InternaPor outro lado, o papel dos negociadores paraguaios recebeu críticas dentro do próprio país, vindas do ex-presidente Juan Carlos Wasmosy (1993-98), acusado de permitir a incorporação de uma dívida espúria (ilegal) de US$ 4 bilhões ao passivo de Itaipu e notório desafeto do coordenador Ricardo Canese.
Ao Diário Última Hora, Wasmosy atribuiu o “fracasso” nas conversações com o Brasil à falta de “interlocutores capazes” e à descoordenação entre as diferentes instâncias do atual governo. “Qual é o interlocutor válido no governo para negociar com o Brasil?”, questionou Wasmosy. “Há uma descoordenação entre os negociadores, a chancelaria e o próprio diretor da entidade, Carlos Mateo Balmelli. Vai, negocia o chanceler e Balmelli não sabe nada; vai Balmelli, e tampouco consulta o chanceler”.
“O ideal seria plantear a modificação de apenas alguns pontos do Tratado de Itaipu, e não uma renegociação total, mas nem sequer isso poderemos conseguir com as pessoas incapazes que rodeiam Lugo. Com certeza, perderemos ante qualquer instância internacional”, enfatizou.
(Por Guilherme Dreyer Wojciechowski,
SopaBrasiguaia, 07/04/2009)