Cuiabá poderá chegar aos seus 300 anos, daqui a uma década, com um de seus principais símbolos agonizando. As perspectivas para o rio Cuiabá não são das melhores. Pelo menos é o que pensam ambientalistas e estudiosos. “Se continuarmos tratando o rio com a mesma irresponsabilidade, vamos matá-lo, com certeza. Vamos transformá-lo no Tietê cuiabano”, afirma o professor e coordenador do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rubem Mauro Palma de Moura.
Responsável por diversos trabalhos de pesquisa sobre o leito e as margens do rio Cuiabá, o professor alerta para duas grandes problemáticas sociais que afetam diretamente a preservação: saneamento básico e lixo. Conforme ele, falta compromisso dos governantes em garantir um saneamento básico eficiente e uma coleta de lixo adequada. Outra queixa, aponta o professor, é a falta de consciência da população sobre o percurso do lixo doméstico, e daqueles que são jogados nas ruas da cidade.
O professor explica que, no período de seca, quando o nível do leito do rio diminui, os esgotos das duas maiores cidades do Estado – Cuiabá e Várzea Grande – fazem com que o rio tenha uma condição bacteriana acima dos níveis normais, impossibilitando a utilização da água para o banho, pesca e limpeza, pois as chances de contrair uma doença é muito grande.
Já na época da chuva, diz Moura, a preocupação é com o lixo arremessado nas ruas e nos córregos. “É uma degradação ambiental violenta, porque todo o lixo não coletado e aquele jogado nas ruas vão parar no Pantanal. Quem faz um passeio hoje pela baia de Chacororé, por exemplo, fica horrorizado com tanta sujeira. É uma alteração cênica assustadora”, destaca o engenheiro.
Para o professor doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Heitor Queiroz de Medeiros, para que o rio Cuiabá não se transforme em um esgoto ao céu aberto, como o rio Tiete, em São Paulo, os governantes da Baixada Cuiabana, principalmente de Cuiabá e Várzea Grande, precisam sair do discurso em por em prática ações reais para um desenvolvimento ambiental sustentável. “Se não tivermos água com quantidade e qualidade não há como sobrevivermos”, alerta o doutor.
Fundador e ex-presidente da Associação Mato-grossense de Ecologia, Heitor afirma que “não adiantam realizações simbólicas”. “É preciso que os homens de poder tenham coragem de enfrentar esse modelo de desenvolvimento predatório, que em décadas contribuiu apenas para o assoreamento e desmatamento das nascentes e galerias”, desafia.
Para os professores, além do investimento em políticas de saneamento básico e coleta de lixo, outra maneira de garantir a qualidade da água e manter preservação do rio Cuiabá é por meio da educação ambiental.
Representantes das Prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande, Vladimir Bouret e Rosangela Cordovez de Aquino, disseram que já desenvolvem projetos voltados à educação ambiental, e que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) vão contribuir para reduzir o problema da falta de saneamento.
(Por Dana Campos, Diário de Cuiabá,
Amazonia.org, 08/04/2009)