O sistema de educação precário no Brasil e a falta de professores estão entre as dificuldades para a implementação de uma educação ambiental que realmente gere mudanças. Porto Alegre (RS) - Hoje vamos falar de Educação Ambiental. Este instrumento que se propõe a gerar a mudança necessária na estrutura sociocultural estabelecida, que propõe uma análise crítica e profunda da sociedade ocidental pós-moderna, estimula alterações necessárias dos padrões de desenvolvimento e consumo experimentados por ela. Instrumento que estimula a ação social comprometida com a aprendizagem e a formação cidadã, formando as bases necessárias para o entendimento da questão ambiental que emerge mediante a crise ética e moral de passamos.
Esta Educação que entende o indivíduo como agente transformador da sua realidade, que tira o homem e a mulher do seu papel de “ator social” e os coloca como “autores sociais”, na medida em que entende que sua trajetória de vida e suas perspectivas podem ser escritas e formuladas a partir de suas reais demandas e entendimento da realidade onde estão inseridos. Não mais um coadjuvante dentro de processo de construção social, mas também não um ator principal: um indivíduo com capacidade de imprimir e propor sua visão de mundo, um autor social.
Os fundamentos pedagógicos da educação ambiental têm como base conceitos da pedagogia moderna e estão fundamentados em distintas correntes filosóficas e de ação. Vão desde a vertente tradicional, organizada em conteúdos e ensino seriado, passando pela abordagem humanista, centrada no aluno e que utiliza como método a focalização de problemas reais, até a abordagem histórica-crítica, centrada no conteúdo produzido socialmente e baseada em condicionantes sociais, econômicos e culturais.
Dentre todas as vertentes e bases teóricas, a abordagem sociocultural de Paulo Freire é a que podemos dizer ter os fundamentos para as rupturas e gêneses necessárias, baseada numa educação problematizadora, em que todos se educam entre si, sem verticalidades, utilizando-se de temas geradores e situações vivenciadas pelo grupo, propondo soluções conjuntas. É sem dúvida a abordagem mais transformadora e crítica, mas evidentemente que não está isolada das outras, e este é o grande diferencial da Educação Ambiental: nada está isolado, restrito, como um sistema fechado, mas tudo é interligado e correlacionado, num espaço, num tempo, numa ação, uma reação.
Como base fundamental a Educação Ambiental propõe como prática do processo educacional a interdisciplinaridade, com o objetivo de desenvolver a autonomia intelectual, social e moral do educando/aluno, enfatizando o processo de aprendizagem e não o conteúdo, onde o professor é o mediador na construção do conhecimento.
Perfeito, todo este arcabouço intelectual, normativo e pedagógico são fundamentais para construção de uma Educação Ambiental Brasileira, com a cara do nosso povo. Mas pensar que a apropriação de tais fundamentos e sua aplicação garante a ruptura e a construção necessária é ser demasiado ingênuo.
Mediante o estado de caos instalado no sistema educacional nacional, colocar a responsabilidade de promover a mudança necessária nas costas dos professores não seria o mais apropriado. Acho fundamental a pedagogia interdisciplinar, mas isso não pode ser o impedimento para proposição de incluir nos currículos a ciência Ecologia. Além daquela Ecologia incluída na disciplina de Biologia.
Imagine uma disciplina o aluno pode ter contato com os sistemas vivos e construídos, ter contato com a legislação ambiental, os processos produtivos e políticos que envolvem a gestão dos recursos naturais. Algo como anteriormente chamávamos de Disciplina de Moral e Cívica - evidente que sem a moral católica cristã e o civismo militar - mas uma disciplina comprometida com o olhar sistêmico ecológico, sem a pretensão de criar uma moralidade, mas informar e passar conhecimento técnico sobre meio ambiente e ecologia. Já existem experiências promissoras neste sentido, com resultados muito positivos.
Segue a interdisciplinaridade responsável pelo entendimento da realidade local e formação cidadã holística, mas a Ecologia poderá formar as bases técnicas e políticas para a superação da crise ambiental da sociedade de consumo. Entender os ciclos naturais e da produção humana, são fundamentais para a construção de sociedades sustentáveis e a cidadania ambiental.
Fortalecer e ampliar a Educação Ambiental é necessário, mas discutir Ecologia é emergencial.
(Por Felipe Amaral,
Agência Chasque, 08/04/2009)
Felipe Amaral é ecólogo e integrante do Instituto Biofilia (http://www.institutobiofilia.org.br).