Empresa alega que área na Bahia pertence a um de seus fornecedoresCerca de 800 integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiram na madrugada desta quarta (08/04) a Fazenda Putumuju, ocupada com plantações de eucalipto, no município de Eunápolis (BA), a 658 quilômetros de Salvador. Os invasores passaram o dia derrubando árvores, afirmando que irão plantar milho e feijão. Espera-se para hoje a chegada de mais mil pessoas à fazenda. O objetivo da ação, segundo o MST, é pressionar o governo para que acelere as desapropriações de terras para a reforma agrária. "Há dois anos o Estado não promove desapropriações", disse Márcio Matos, dirigente regional do movimento.
Ainda segundo Matos, a Putumuju, com 4,7 mil hectares, encontra-se em área devoluta e deveria ser utilizada para a reforma agrária. Em vez disso estaria sendo usada pela Veracel Celulose com eucaliptos, para a produção de papel. A Veracel não se pronunciou sobre a invasão. Informou apenas que utiliza a área, pertencente a um de seus fornecedores, que não foi localizado ontem.
A invasão faz parte do chamado "abril vermelho" - movimentação realizada anualmente pelo MST para lembrar a morte de 19 trabalhadores rurais em Eldorado dos Carajás, no Pará, durante confronto com a Polícia Militar, em 1996. De acordo com essa agenda, nos próximos dias as invasões serão intensificadas na Bahia e em outros Estados.
CríticasNa terça-feira à noite, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, o economista João Pedro Stedile, principal líder do MST, voltou a criticar o agronegócio, definido por ele como "aliança entre o capital financeiro, corporações da indústria agrobioquímica e o latifúndio".
Stedile participava de um colóquio, organizado pela Comissão de Justiça e Paz da CNBB, sobre a função social da terra. Indagado se o MST não estaria perdendo de vista seu objetivo principal, a redistribuição de terras no Brasil, para se concentrar no ataque ao agronegócio, ele respondeu: "É o agronegócio que está avançando sobre nós, por isso estamos nos defendendo. Não perdemos o foco."
O líder dos sem-terra afirmou que o capital financeiro está aproveitando a crise econômica para ampliar seus investimentos em setores estratégicos, como energia, água e biodiversidade. "Quando acabar a crise, a transformação desses recursos em mercadoria terá a melhor conversão em lucro, se comparada com outros investimentos", afirmou.
(Por Tiago Décimo, com colaboração de Roldão Arruda,
O Estado de S. Paulo, 09/04/2009)