Durante os 11 meses em que esteve em liberdade, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de mandar matar a missionária Dorothy Stang, em 2005, voltou à região de Anapu (PA), onde negociou a compra de lotes de terra de ex-assentados da reforma agrária, segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra) e o Ministério Público Federal. Anteontem (07/04), o Tribunal de Justiça paraense anulou o júri que o havia absolvido em maio, mandou prendê-lo e marcar novo julgamento. Até a conclusão da edição, ele não havia sido encontrado e é tido como foragido.
Para José Amaro, antigo aliado de Dorothy, padre de Anapu e representante da CPT na cidade, a atuação de Bida configura "pressão" sobre pequenos proprietários. Apesar de não serem ilegais, já que os donos das terras tinham os documentos, as negociações são demonstração de poder, disse Amaro. Segundo ele, ao fazer as aquisições Bida estava com Dezinho, conhecido como pistoleiro, e Délio Fernandes (PRP), vice-prefeito de Anapu e que chegou a ser citado pela PF como cúmplice, mas nunca foi acusado. A Folha não conseguiu localizá-lo.
Para Felício Pontes, procurador da República, Bida pode ser testa-de-ferro de Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, outro acusado de mandar matar a freira e que deve ser julgado neste semestre. Em 2008, Taradão foi preso sob a suspeita de tentar comprar ilegalmente lotes de assentados do projeto sustentável fundado pela freira. Ele está em liberdade.
A possibilidade de Bida ameaçar testemunhas foi um dos motivos alegados para sua prisão, na decisão de anteontem. Para anular a absolvição, eles consideraram que a principal prova em favor de Bida, um vídeo no qual outro acusado diz inocentar o fazendeiro, foi produzida sem autorização judicial, o que impediu contestações da Promotoria.
Eduardo Imbiriba, advogado de Bida, disse não ter detalhes da vida do cliente e chamou Amaro de "fanfarrão". Refutou a possibilidade de Bida ser testa-de-ferro de Taradão, cujo advogado, Jânio Siqueira, reafirmou a inocência de seu cliente.
Ontem, a ONG Anistia Internacional comemorou a reabertura do caso, chamando-a de "rara oportunidade para se fazer Justiça" no Pará.
(Por João Carlos Magalhães,
Folha de S. Paulo, 09/04/2009)