Tomar banho no riacho, ir ao "toilette" atrás das árvores e cozinhar na fogueira: no vilarejo italiano de Camarda, castigado pelo grande terremoto que atingiu a região de Abruzzo neste domingo (5), os desabrigados não têm outra escolha a não ser se virar e esperar, sem muita esperança, pela ajuda das autoridades.
"Só hoje recebemos essas barracas azuis do Ministério do Interior. Para essas duas primeiras noites, fui no depósito buscar o ônibus da minha empresa de transportes", relatou Paolo Boccabella à agência de notícias France Presse.
No meio do campo, Paolo corta o cabelo de seu cunhado, sentado em uma cadeira. Um clima que poderia ser bucólico se não tivesse, ao fundo, o povoado destruído aos pés da montanha, devastado pelo terremoto.
Camarda, que fica a 785 metros de altitude no caminho da montanha de Gran Sasso, teve muita sorte. Todos os seus moradores estão, milagrosamente, sãos e salvos, ainda que a maioria das casas, feitas de pedra, esteja inabitável, ou em parte destruída.
"É duro, muito duro. Acabamos de receber essas barracas, mas não há nada dentro. Tivemos de voltar para nossa casa para pegar colchão. Também prometeram banheiros químicos, mas ainda não chegou nada. Para dizer a verdade, vamos ao banheiro lá atrás das árvores. É um pouco degradante, sobretudo, para as mulheres", lamentou Fernando Alloggia.
"Lavei os pés em uma bacia com água do riacho", acrescentou Fernando, sentado na frente da barraca destinada à sua família. "É isso, é simples. A gente se vira, fazendo o que dá. Há muita solidariedade. Cozinhamos nesse braseiro, ou na churrasqueira. A Defesa Civil disse que teríamos uma cozinha móvel, então, nós esperamos."
Na barraca em frente, uma mulher troca um bebê que chora. Um pouco mais adiante, uma família armou uma mesa de camping, onde empilha garrafas de água mineral. "O que vocês queriam? Precisamos nos virar. Não podemos continuar esperando de braços cruzados que alguém venha resolver nossos problemas", disse Fausto Spagnoli.
"Eu estou preparado para ter paciência e esperar que tudo se resolva, mas eu me preocupo com as crianças. Não tem mais escola para os pequenos, minha filha mais velha não vai poder ir para a universidade. Não sabemos o que vai acontecer, está tudo suspenso."
Ao longo da estrada que leva a Áquila, capital de Abruzzo, as mesmas cenas se repetem. Diante das casas com fissuras, ou destruídas, as famílias espalharam colchões na grama, armam barracas e cozinham em braseiros.
(FP /
UOL, 08/04/2009)