Além de filosófico, ando cético. Leio agora uma entrevista do Hans Magnus Enzensberger na revista Der Spiegel (O Espelho) de novembro de 2008. É impressionante a atualidade do artigo "Fantástica perda de memória", apesar dos meses passados. Enzensberger diz que os céticos (do contra) foram os que menos perderam com a crise. Por outro lado, também mantenho o foco no pragmatismo. Acabo de colocar uma entrevista do Thomas Friedman na capa do Ambiente JÁ. "A revolução verde é a única saída", propagandeia ele.
Unindo as duas perspectivas junto a uma pitada conspirativa (não que eu seja muito inclinado a dar crédito à tese de que somos manipulados por seres mais evoluídos), tenho a impressão que uma grande jogada se arma para toda a humanidade, que, hipnotizada na nova barbárie que se constitui o consumismo, será pega de surpresa por um câmbio avassalador.
Aconselho a leitura urgente do livro "A Vinganca de Gaia", do Sir James Lovelock. O livro é de 2006 e já deve ter traducão para o português. Resumindo a tese, tudo o que o criador da teoria de gaia explica no livro vem acontecendo nos últimos dois anos. Com o agravante que, no espectro da mudança previsível, os dados recentes mostram que caminhamos para o pior dos cenários pintados por Lovelock. "Em 2100 só sobrarão 300 ou 200 milhões de pessoas no planeta". Curiosamente a crise financeira chega num momento crucial, abortando qualquer possibilidade de debate sobre a redução do nível de consumo. Conspiração ou não, é muita coincidência que isso ocorra agora.
Minha hipótese é simples: estamos a anos, talvez meses de distância do início de um "choque climático". Em outras palavras, parece que o sistema global vigente está agindo para extrair o máximo possível do que resta ser extraído por esse modelo atual. Mesmo que isso seja mero exercício de futurologia, vale o risco de afirmar tal coisa. O sujeito que previu o terremoto na Itália ocorrido nesta semana e foi ridicularizado pelo governo agora é herói.
Ou seja, tenho pouco a perder ao levantar tal lebre. Se tudo for blefe ou uma indução proposital ao pânico, logo saberemos e as baixas serão muito menores do que um cataclisma.
(Por Mariano Senna da Costa, Ambiente JÁ, 08/04/2009)