O governo paraguaio está analisando a oferta feita pelo Brasil, de disponibilizar US$ 1 bilhão em financiamentos do BNDES a projetos de industrialização, mas quer que fique claro que este assunto não tem qualquer relação e não altera em nada a negociação em curso sobre a hidrelétrica de Itaipu. O aviso é do engenheiro elétrico Ricardo Canese, coordenador da comissão especial do Ministério de Relações Exteriores do Paraguai responsável pelos Entes Nacionais de Hidroeletricidade, órgão que cuida das duas grandes usinas binacionais, Itaipu e Yaciretá (com a Argentina).
Conforme noticiou o Valor ontem, a proposta de financiamento do BNDES será discutida em um novo encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo, marcada para 29 de abril. Os recursos permitiriam ao Paraguai o financiamento de projetos nas áreas de cana-de-açúcar, cimento, celulose e melhoramento da soja, segundo o diretor-geral do lado brasileiro de Itaipu, Jorge Samek.
Ricardo Canese, um deputado do Parlamento do Mercosul e muito próximo ao presidente Fernando Lugo, disse que a proposta foi apresentada pela primeira vez ao presidente paraguaio em 26 de janeiro, durante um encontro bilateral diplomático que precedeu a reunião entre os dois presidentes no dia 30 de janeiro. Neste dia foi reiterada como uma das ofertas do governo brasileiro de ajuda ao Paraguai.
"Na reunião dos presidentes Lugo e Lula ficou muito claro que essa oferta de crédito seria analisada em nível de ministérios da economia de ambos os países e que isso não faria parte das negociações sobre Itaipu", afirmou Canese em entrevista por telefone ao Valor.
Canese disse que a oferta ainda está sob análise do ministro da Economia, que deverá compará-la com outras ofertas de crédito que o Paraguai recebeu do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e dos governos do Japão e da Alemanha. Se as condições forem melhores, será aceito; do contrário, não. "Há boa vontade do Brasil de ajudar o Paraguai, mas reitero que os créditos não fazem parte da negociação por Itaipu", disse Canese.
Sobre as negociações com o governo brasileiro em torno das demandas do Paraguai sobre a hidrelétrica de Itaipu, Canese afirmou que "há avanços significativos". O principal avanço, na opinião dele, foi a aceitação por parte do governo brasileiro em auditar a dívida da empresa Itaipu Binacional e também na necessidade de controle bilateral da companhia.
Também houve avanços, disse, no reconhecimento da necessidade de conclusão de obras previstas no Tratado de Itaipu (assinado em 1973) e nunca realizadas: a subestação seccionaria do lado Paraguaio e as obras de navegação. Porém, nos pontos-chave da discussão - "livre disponibilidade da energia e preço justo" - não houve avanço, garantiu.
(Por Janes Rocha,
Valor Econômico, 08/04/2009)