O alemão Friedrich Berschauer não é nada fã de calor. Mas, esta semana, decidiu trocar o frio de Monheim, na Alemanha, pelo sol de Porto de Galinhas, no litoral pernambucano. Isso porque ele aposta que é do clima tropical brasileiro que virão, em breve, as maiores vendas da Bayer CropScience, companhia que ele preside. Suado da cabeça aos pés, ele dava as diretrizes ontem a uma equipe de 500 vendedores de defensivos agrícolas e sementes.
Atualmente, o Brasil divide com a França a segunda posição do ranking de vendas da Bayer, com faturamento de R$ 1,8 bilhão em 2008, ou 10% da receita mundial. Porém, para Berschauer, em breve a liderança, que hoje é dos Estados Unidos, será brasileira. No segmento de defensivos agrícolas, os produtores brasileiros já ultrapassaram no ano passado o consumo dos americanos, segundo dados do Kleffmann Group, consultoria alemã de agronegócios.
"Hoje, o país mais importante do mundo em termos agrícolas é o Brasil", afirma Berschauer. Para ele, o diferencial do país vem do farto estoque de terras, do clima e, principalmente, da oferta de água. "Em países como Rússia e Ucrânia, as lavouras já não podem mais se expandir por falta de água", diz.
De olho na demanda crescente por produtos agrícolas, a empresa aumentará a produção da unidade de Belford Roxo (RJ), que é de 40 mil toneladas, em 20% neste ano, a partir de um aporte de R$ 32 milhões. A expectativa do principal executivo mundial da Bayer CropScience é que apenas América Latina, Índia e China apresentem crescimento nas vendas neste ano. O Japão dá indícios de recuperação. Ao todo, a previsão é que o faturamento global aumente de 3% a 5% em 2009 em relação a 2008. "Mais por causa do aumento dos preços do que pelo volume", explica Berschauer.
Para Marc Reichardt, presidente da Bayer CropScience para a América Latina, as culturas que apresentam maior potencial de crescimento no mercado brasileiro são frutas cítricas, café, milho e cana-de-açúcar. "O consumo per capita dos brasileiros ainda é bastante baixo. Com a melhora da renda, a população consumirá mais."
Além disso, Reichardt vê boas perspectivas para os transgênicos. Algodão e milho, por exemplo, começaram a ser vendidos no ano passado. O arroz está em fase de aprovação na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Os pesquisadores da Bayer agora se debruçam sobre a cana-de-açúcar transgênica. "Acreditamos que a cana seja a cultura com maior potencial para os biocombustíveis."
No ano passado, as vendas da Bayer CropScience cresceram 37% na comparação com 2007. A unidade de defensivos agrícolas e sementes representa 49% das vendas da multinacional alemã no país, onde também são fabricados medicamentos e materiais inovadores.
(Por Carolina Mandl,
Valor Econômico, 08/04/2009)