O Estado de Roraima tem a maior parte do seu território ocupado por áreas indígenas. São 46% do total. Mas o tamanho das terras indígenas pode aumentar ainda mais. Dos 6 milhões de hectares destinados pela União ao governo estadual para "compensar" a criação da Raposa Serra do Sol, pelo menos 2 milhões podem ser reivindicados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) para eventual demarcação da terra indígena Anaru, que reuniria parte das etnias originárias do Estado.
A simples possibilidade de criação de uma nova reserva levanta enorme polêmica. As feridas do complexo processo de homologação de Raposa Serra do Sol seguem abertas. "Não podemos nem pensar em engessar ainda mais o Estado. Basta dessas amarras", diz o presidente da federação estadual de Agricultura e Pecuária, Almir Sá. Os 1,75 milhão de hectares da área demarcada na Raposa equivalem a mais de dez vezes o tamanho do município de São Paulo. E a reserva Ianomâmi é ainda maior: quase 10 milhões de hectares. "Direito é direito", diz o bispo de Roraima, dom Roque Paloschi.
O secretário estadual do Índio, Jonas Marcolino, entende que a demarcação não garante qualidade de vida para os índios. Fundador da Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima, ele prega a melhoria da infraestrutura e das condições de saúde e educação dos povos indígenas da região. "Criar reservas e deixar os índios amontoados, isolados, não resolve. Os ianomâmi estão lá para provar a falência desse modelo de colonização feito pela Funai."
Em 1991, o governo federal já havia homologado a reserva São Marcos, uma área contígua às terras Ianomâmi e da Raposa Serra do Sol. De lá para cá, porém, ainda perduram questionamentos jurídicos e disputas na Justiça. O município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, deixaria de existir, segundo as regras da demarcação em vigor desde então. "Já imaginou retirar aquelas nove ou dez mil pessoas de suas casas?", pergunta o ex-prefeito Paulo César Quartiero, líder da "resistência" dos produtores rurais à homologação da Raposa Serra do Sol.
(Por Mauro Zanatta,
Valor Econômico, 08/04/2009)