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2009-04-08
Só uma revolução "verde" liderada pelos Estados Unidos pode salvar o futuro desse país e do mundo inteiro, fazer com que a economia renasça e dar novo alento e riqueza à classe média. Thomas Friedman, três vezes vencedor do prêmio Pulitzer, colunista do New York Times e autor de best-sellers da ensaística contemporânea ("De Beirute a Jerusalém", "O lexus e a oliveira", "O mundo é plano") está convencido disso, tendo dedicado a esse tema o seu último trabalho: "Hot, Flat and Crowded", publicado nos EUA em outubro e a partir de amanhã nas livrarias da Itália, com o mesmo título: "Quente, plano e cheio".
Eis a entrevista.

Por que quente, plano e cheio?
Thomas Friedman - O título original deveria ter sido "O verde é o novo vermelho, branco e azul" [as cores da bandeira norte-americana], mas quanto mais trabalhava, mais me documentava e mais me dava conta de que não estava certo: porque o Japão já é mais verde do que nós, a Alemanha e a Dinamarca também. Hoje, o mundo é "plano" porque a revolução tecnológica nivelou a economia e as consciências globais. Está "cheio" por causa do crescimento demográfico e dos bilhões de pessoas que querem viver como os norte-americanos. Está "quente" por causa do aquecimento global. É um mundo com cinco problemas chaves.

Quais são?
Friedman - A crescente demanda por energia e recursos naturais, sempre mais escassos; a maciça transferência de riquezas aos produtores de petróleo e aos seus "petroditadores"; as mudanças climáticas; a penúria energética, que divide o mundo entre quem tem abundância de eletricidade e quem tem pouca; a rápida perda de biodiversidade, com a extinção de plantas e animais. Esses problemas e o modo como os enfrentaremos determinarão o nosso futuro.

E quanto à queda da Wall Street e à crise econômica?
Friedman - Eu terminei este livro em julho passado, e o primeiro capítulo, de alguma forma, antecipava o que ocorreu em seguida. A crise econômica atual muda algumas coisas. Na próxima edição haverá um novo capítulo. Mas o conceito de fundo permanece o mesmo ainda agora: é necessária uma nova revolução industrial, à qual chamamos de ET (Energy Technology) ou, se preferirmos, Geo-Greenism, revolução verde. E deverão ser os Estados Unidos quem a liderará.

De que modo?
Friedman - Devemos nos dotar de novos instrumentos, de novas infraestruturas, de novos modos de pensar e de colaborar com os outros, todas as coisas que são o pressuposto para grandes ações e para descobertas científicas e o propelente capaz de impulsionar uma nação.

Qual a sua receita?
Friedman - Digo-a com um slogan: um ecossistema inovador, dez mil empresas, dez mil empreendedores, dez mil garagens de onde saem novas idéias.

Como isso se concilia com os EUA em recessão?
Friedman - Tanto o Mercado quanto a Mãe Natureza estão passando por dificuldades e nos dizem que o crescimento só é possível por meio de meios sustentáveis. Em Dow Jones, isso se vê com os números em vermelhos, mas a Mãe Natureza não tem um Dow seu, não explica por meio de números qual é o seu estado. Mas se estudarmos a ciência climática é impressionante ver como as mudanças do clima estão ocorrendo mais velozmente do que os cientistas previam. Não há um Dow, mas sim critérios com os quais se pode avaliar o seu estado de saúde.

Quais?
Friedman - Os cinco pontos dos quais falava antes. Estamos queimando, poluindo, fumando e comendo este planeta. Acrescentamos um bilhão de pessoas a mais a cada 13 anos: se precisarem só de uma lâmpada de 60 watts durante quatro horas por dia, teremos que construir 20 novas centrais térmicas de carvão de 500 megawatts.

O que muda com a crise atual?
Friedman - O desastre dos subprimes mútuos é uma metáfora do que ocorreu nos EUA nos últimos anos, isto é, a ruptura da cadeia que une compromisso, resultados e responsabilidade. Pensamos em obter o "sonho americano" – o primeiro dos quais é a casa própria – a custo zero, e vimos os resultados. O país fez a mesma coisa, estimulamos um mútuo sobre o nosso futuro em vez de investir nele.

Então, como os EUA podem liderar essa nova revolução?
Friedman - Com uma mudança radical. Passando dos problemas do terrorismo global da era Bush aos do aquecimento global. Com a administração Obama, teremos fortes gastos com infraestrutura, com transportes, com a energia solar e eólica.

A ameaça terrorista não existe mais?
Friedman - Não estou dizendo isso. O terrorismo global não era uma invenção e ainda é uma ameaça real. Mas a verdadeira razão pela qual Obama é presidente é que os EUA querem uma "nation-building" aqui, na nossa casa. Para mim, esse "nation-building" é o verde, como o vermelho era a cor dos anos 50.

Em que sentido?
Friedman - O anticomunismo impulsionou os EUA a desenvolver a defesa, a estrutura industrial, as autoestradas, mas também as instituições educacionais e uma pesquisa científica de altíssimo nível capaz de lançar o homem no espaço e entusiasmar as novas gerações. Hoje, o "código vermelho" de Bush, a guerra contra o terrorismo, não é suficiente. Precisamos de um grande projeto, de um "código verde". Há um mercado que criou títulos tóxicos, e uma política climática que criou rejeitos tóxicos. Duas faces do mesmo problema.

Como o senhor responde às críticas de países como a China e a Índia sobre temas ambientais?
Friedman - De um ponto de vista moral, eles têm razão perfeitamente. Nós comemos o antepasto, o primeiro e o segundo pratos e a sobremesa. A Índia e a China chegaram na hora do cafezinho, e nós vamos pedir a elas que dividam a conta inteira? Obviamente não é justo. Respondo assim: vocês têm razão, sigam adiante com o uso da energia suja, é um direito de vocês. Porque estou certo de que os EUA precisam de apenas cinco anos para implementar a energia limpa e, em cinco anos, seremos capazes de vendê-la também a vocês.

E quanto ao plano energético de Obama?
Friedman - Sou crítico. Obama está totalmente certo, exceto por duas coisas: faz a política errada com os políticos errados. Eu acredito na taxa de carbono. Ele sabe que no Senado nunca a aprovará. Se a Casa Branca me pede conselhos? Não. Encontrei Obama uma vez. Sei que leu os meus livros e acompanha as minhas colunas no New York Times. Eu sou a favor de "green the bailout", usar o dinheiro público para a inovação e a renovação.

As ajudas ao setor automobilístico vão nessa direção?
Friedman - Certamente, não sou um fã dos administradores que guiam a General Motors ou a Chrysler. Penso que tiveram grandes responsabilidades e que devem ser substituídos. Estou de acordo com Obama que essa deve ser a condição, porque recebiam ajudas do governo. A indústria automobilística deve encontrar o modo de sobreviver. Não nos esqueçamos que estamos falando do trabalho e da vida de muitas pessoas. Sobreviver renovando-se completamente. Essa é a chave.

(La Repubblica / IHUnisinos, 07/04/2009)
Tradução: Moisés Sbardelotto ,

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