Uma das mais elaboradas falácias ambientais do primeiro mundo está em atribuir a crescente crise ambiental ao crescimento populacional do ‘pobre, feio e sujo’ terceiro mundo. Nos EUA, por exemplo, está é uma afirmação recorrente e, ao que parece, será mantida mesmo sob a administração Obama. Recentemente a cientista Nina Fedoroff, que foi assessora de ciência e tecnologia de Condoleezza Rice e administradora da Agency for International Development, USAID (Agência para o Desenvolvimento Internacional) na administração Bush e, atualmente, é assessora de ciência e tecnologia de Hillary Clinton, em entrevista à BBC [Earth population 'exceeds limits'], reafirmou que a população humana já havia excedido os limites de sustentabilidade do planeta.
Ela reafirmou a falácia ao destacar a necessidade de continuar a redução da taxa de natalidade porque o planeta não suporta mais pessoas. Aproveitou, ainda, para defender o ‘gerenciamento’ dos recursos relativos aos alimentos e à água, dando grande importância aos transgênicos como ‘resposta’ ao crescimento da população e à crise alimentar.
A hipocrisia do argumento está no fato de que as grandes populações e as ‘altas’ taxas de natalidade estão nos países em desenvolvimento. De fato, já somos 6,7 bilhões de pessoas no planeta e, provavelmente, seremos mais de 9 bilhões em 2050. Mas não é esta a razão principal da crise ambiental, alimentar ou climática.
A crise climática é, acima de tudo, fruto da gigantesca emissão de CO2 pelos países que se dizem desenvolvidos. A ‘pegada ecológica’ média de um norte-americano é mais do que 10 vezes maior do que um brasileiro médio. Em relação à África e Ásia pode ser 20 vezes maior.
A crise alimentar foi causada pela ganância, pela especulação e pelo desperdício de alimento. Tudo isto no primeiro mundo. Os países pobres foram as vítimas, não o carrasco. O desperdício mundial de alimentos chega a 50% da produção, o que também desperdiça 40 trilhões de litros de água. Este desperdício é, em grande parte, nos países desenvolvidos ou em razão deles.
De acordo com o PNUMA desperdiçar menos já bastaria para alimentar toda a população mundial. Desperdiçar menos bastaria para alimentar toda a população mundial. Quanto aos transgênicos, a cientista Nina Fedoroff é uma histórica e comprometida defensora. Em entrevista [A Conversation With Nina Fedoroff] ao The New York Times, de 18/08/2008, ela deixa clara esta posição.
Ela não deve ser considerada como ‘apenas’ uma assessora, sem grande relevância. Sua opinião tem peso político suficiente para justificar entrevistas pela BBC e pelo NYT. Em certo sentido, o ‘pensamento, de Nina V. Fedoroff é uma clara demonstração da estratégia e do conceito da USAID. Também demonstra forte racismo ambiental ao transferir para os países pobres a responsabilidade atual e futura da crise ambiental.
Pode ser que, com o governo Obama, os norte-americanos mudem em alguma coisa. Mas, ao que parece, não mudarão tanto assim.
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Henrique Cortez Weblog, 06/04/2009)