Lixo é sinônimo de empresa para Fabiana Conceição dos Santos, 33 anos. Apenas com venda de sucata ela cria três filhas: Cristiane, 13 anos, Crislaine, nove, e Ritieli, quatro anos. Ela montou um depósito no centro da Vila Chocolatão e compra dos catadores toneladas de papel, sobras de metal, plástico. Feito Regina Duarte na novela global Rainha da Sucata. Depois, revende para grandes atravessadores da Rua Voluntários da Pátria, que reciclam o material até que ele possa ser reutilizado em fábricas.
Ao contrário de Fabiana, Lurdes Vieira da Silva, 47 anos, ainda está no primeiro degrau da pirâmide social alicerçada no lixo. É catadora e usa as mãos nuas para vasculhar os detritos. Morava embaixo do viaduto dos Açorianos, até conseguir um lugar na Vila Chocolatão.
Vida ainda mais dura tem Glênio Valdemar Flores, 31 anos. Ele quase desaparece atrás de um carrinho lotado com centenas de quilos de lixo, embrulhado em sacos pretos. Puxa isso pelo Centro o dia inteiro. Quando está muito cansado para separar o material, guarda os detritos em casa, junto à cama. Tão esgotado que nem dá bola para os ratos.
Além de lidar com lixo, em diferentes etapas, Glênio, Lurdes, Fabiana têm algo mais em comum: não querem ouvir falar de se mudar para o outro lado da cidade.
– Prefiro minha maloquinha. Casa é bom, mas não é tudo. Já o lixo é minha sobrevivência. E nenhum lugar tem mais lixo do que o Centro – justifica Lurdes.
O lixo pode ser fonte de vida, mas também é risco de morte. Ele atrai animais de todo o tipo. Em um final de semana de março, a papeleira Luciana da Silva, 20 anos, acordou com um rato mordendo sua testa.
(Zero Hora, 03/04/2009)