Usando micróbios aquáticos como cobaias, cientistas da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, descobriram que as nanopartículas que estão sendo adicionadas aos cosméticos, protetores solares e centenas de outros produtos, causam danos ao meio ambiente.
Produtos com nanotecnologiaJá existem centenas de "produtos nanotecnológicos" no mercado e muitos mais estão prestes a serem lançados. Mas os efeitos das nanopartículas - partículas minúsculas, capazes até mesmo de entrar no interior das células - ainda não foram adequadamente estudados e os cientistas estão correndo contra o relógio para descobrir os seus prováveis impactos sobre a saúde humana, principalmente dos trabalhadores que lidam com elas, e sobre o meio ambiente.
O estudo, conduzido pela Dra. Cyndee Gruden, focou apenas um tipo de nanopartícula - as nanopartículas de dióxido de titânio (TiO2) - que está sendo utilizado em cosméticos e outros produtos de beleza pessoal, na criação de janelas autolimpantes e em produtos bactericidas.
As nanopartículas de dióxido de titânio bloqueiam os raios ultravioleta da luz solar, sendo eficazes na melhoria das funções desses produtos. Mas, uma vez lavadas da pele ou do material onde estão aplicadas, elas seguem o mesmo caminho de todas as águas servidas, indo parar no meio ambiente.
Resultado desconhecido"Quando elas entram em um lago, o que acontece? Será que elas entram nos microorganismos ou se ligam a eles? Será que isto poderia matá-los ou é algo inócuo?," pergunta a pesquisadora.
"Estas são questões importantes para determinar os efeitos que as nanopartículas têm no meio ambiente. Hoje, nós realmente não estamos certos das respostas," explica ela, referindo-se à falta de pesquisas exaustivas e a um melhor conhecimento na área.
Impacto velozUsando a bactéria Escherichia coli (E. coli) como cobaia, a Dra. Gruden descobriu grandes reduções na sobrevivência do microorganismo em amostras expostas as concentrações mínimas das nanopartículas de titânio por períodos de menos de uma hora.
A morte das bactérias deu-se por que as nanopartículas danificam a membrana externa dos micróbios.
"A rapidez do impacto me surpreendeu," disse ela. A descoberta abre as portas para pesquisas futuras, incluindo estudos que possam determinar como esses efeitos se dão no meio ambiente. Os estudos da Dra. Gruden foram feitos em laboratório.
BiossensorEm uma outra pesquisa relacionada, cientistas da Universidade de Utah, desenvolveram um biossensor que poderá ajudar nessas futuras pesquisas de campo - o biossensor emite luz quando entra em contato com nanopartículas presentes no meio ambiente.
O grupo da Dra. Anne Anderson fez alterações genéticas em linhagens de Pseudomonas putida (P. putida), um micróbio benéfico encontrado no solo, para que os animais emitam luz quando entram em contato com nanopartículas de metais pesados.
"A novidade do biossensor é que nós podemos obter respostas muito, muito rapidamente," disse Anderson, argumentando que os métodos atuais podem levar até dois dias para fornecerem os resultados.
ToxicidadeO grupo de Anderson descobriu que a P. putida não tolera nanopartículas de prata, óxido de cobre e óxido de zinco. A toxicidade ocorre em níveis de microgramas por litro, o que é equivale a duas ou três gotas de água em uma piscina olímpica.
Os produtos com nanotecnologia têm chegado ao mercado com grande apelo para os consumidores, como sendo o estado da arte da tecnologia. Contudo, o público não está ciente desses riscos.
"É trabalho dos cientistas fazer boas pesquisas e deixar que as descobertas falem por si mesmas. E as promessas da nanotecnologia precisam ser melhor avaliadas. Até o momento, não está claro se os benefícios da nanotecnologia superam os riscos associados com a exposição e a liberação das nanopartículas no meio ambiente," conclui a pesquisadora.
(
Inovação Tecnológica, 02/04/2009)