Medições recentes divulgadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que o reservatório da usina hidrelétrica de Balbina, localizada no rio Uatumã (AM), está operando com quase o dobro de área alagada do que o divulgado pelo projeto. Considerada a mais poluente e menos eficaz central de geração de energia do país, o aumento de terras encobertas pode elevar ainda mais a quantidade de gases do efeito estufa liberados pelo empreendimento.
Desde sua inauguração em 1988, Balbina sempre foi tomada como o exemplo do que não se deve fazer no setor de geração de energia. Sua capacidade máxima de 250MW contra os 2.360 km² de área alagada de seu reservatório faz com que a energia gerada seja de altíssimo custo, além de suas emissões superarem, inclusive, a poluição média de uma termelétrica.
O problema, porém, é que atualmente o reservatório está operando com uma área de 4.447 km², ampliando danos ambientais vertiginosamente e principalmente colocando em risco populações tradicionais que vivem ao redor da barragem. Além disso, a água começa a invadir um espaço de terra dos índios Waimiri-Atroari, diminuindo a área demarcada.
Glenn Switkes, diretor da ONG International Rivers, é um dos principais críticos do sistema de geração de energia via hidrelétrica, e coloca Balbina como um exemplo dos prejuízos que podem ser causados por essa fonte de energia. "As companhias têm defendido que a tecnologia melhorou, que tragédias como esta não mais acontecerão, mas estamos vendo agora, 21 anos depois de inaugurada, Balbina se tornar um risco para moradores da região num regime de chuvas intenso", afirma.
Segundo Switkes, existem duas principais razões para o aumento da área do reservatório. Primeiro devido à grande quantidade de sedimentos que o rio Uatumã deposita no fundo da lagoa artificial, elevando o nível da água. Segundo ele, este problema pode acontecer também nas usinas do Rio Madeira, e deve ser levado em conta na hora de administrar o empreendimento.
O segundo fator de causa tem origem numa falha de gestão da companhia que administra Balbina. O nível operacional médio da usina sempre esteve por volta de 50 metros, deixando a usina aproveitar somente 112 MW dos 250 MW de capacidade instalada. Para aumentar a produção, optou-se por elevar em um metro o nível operacional, o que já é suficiente para dobrar a área do reservatório. "Tudo porque aumentaram o reservatório para gerar mais energia e descartaram a segurança. Isso pode acontecer com o rio Madeira. No começo não será sentido, mas com o passar do tempo, a área alagada vai se espalhar vai chegar a ocupar a Bolívia", afirma Switkes.
IntrigasA empresa que atualmente administra a usina hidrelétrica de Balbina é a Manaus Energia, estatal ligada a Eletrobrás. Segundo Glenn Switkes, em primeiro momento a empresa negou que a área da represa estivesse acima do normal. Foi preciso a Aneel confirmar os dados para que houvesse uma certeza dos dados.
Ainda segundo o ambientalista, esta situação de reservatório ampliado pode ser muito perigosa com o início da época de cheias na região Amazônica. No começo de março a usina já havia aberto as comportas para o escoamento do excesso de água devido ao excesso de chuvas. Ações como esta já geraram muitos prejuízos para a população devido a alagamentos e destruição de propriedades.
A empresa foi contatada para esclarecer possíveis soluções para o problema, mas até o presente momento ainda não encaminhou resposta. "Balbina tinha solução quando foi planejada. Na época da construção, a própria Eletronorte (empresa responsável pelo projeto) e o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) haviam dito que o projeto era uma tragédia", brinca Glenn Switkes, e critica: "Agora que todos já se esqueceram deste caso, acham que podem fazer qualquer coisa. Pode acabar sendo uma catástrofe continuar operando com a margem de segurança diminuída".
(Por Flavio Bonanome,
Amazonia.org, 02/04/2009)