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proteção das florestas proteção da água mercado de carbono
2009-04-02
Michael Jenkins, da ONG Forest Trends, lidera estudo que pretende calcular o valor real dos serviços ambientais de cada floresta. Para ele, a crise é um empecilho temporário na busca pelo equilíbrio ambiental

Michael Jenkins foi consultor da MacArthur Foundation e do Banco Mundial na elaboração de políticas para as florestas. É fundador da organização não governamental Forest Trends, que tem se especializado em promover o valor das florestas e dos ecossistemas dentro dos mercados globais. A entidade deve lançar nos próximos três anos um mecanismo internacional para calcular quanto valem os serviços ambientais de cada floresta do planeta.

É isso que Jenkins vai discutir a partir desta quarta (02/04), em Cuiabá. Ele é um dos organizadores da Conferência Mundial Katoomba, promovida em conjunto com o governo do Mato Grosso para discutir como pagar pela preservação da Amazônia. O evento reúne investidores internacionais, representantes das principais ONGs e autoridades do governo federal, como o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Em entrevista a ÉPOCA, Jenkins explica que o Brasil pode ser uma potência se souber capitalizar seus recursos naturais.

ÉPOCA – Quando surgiu esse movimento de empresas e governos aceitarem a pagar para evitar o desmatamento?
Michael Jenkins – Esse é um processo que está acontecendo há uns vinte anos. O primeiro mercado para os serviços florestais foi a certificação de madeira retirada sem destruir a floresta. É a madeira certificada com o selo verde. Esse mercado surgiu depois que diferentes grupos começaram a exigir uma madeira com garantia que não destruísse as florestas. Foi minha primeira percepção de que teríamos que ampliar os mercados para serviços ambientais porque eles teriam um grande papel no futuro. O segundo momento foi quando empresas como a Shell, e outras grandes mineradoras, petroquímicas e empresas de agrobusines começaram a buscar uma forma de calcular quais eram os impactos de suas atividades na biodiversidade do planeta.

Mas essas empresas não são as maiores poluidoras também? Elas não estariam fazendo isso por mera pressão dos ambientalistas?
Jenkins – Sim, elas foram as primeiras a começar a trilhar esse caminho por causa das críticas dos ambientalistas. Essas críticas foram boas e fizeram com que elas desejassem mudar. E isso acabou sendo a raiz de um programa que estamos desenvolvendo para calcular exatamente o valor dos serviços ambientais. Esse projeto deve ser concluído nos próximos três anos.

A idéia é transformar a natureza em uma commodity global?
Jenkins – Essa é uma crítica comum ao nosso trabalho. Eu não faço parte do grupo que acha que temos que colocar um preço na natureza, mas é fundamental buscar um valor para os seus serviços. Temos de buscar maneiras de dar incentivos aos que estão guardando a natureza, como os indígenas e as pequenas comunidades. Esses incentivos são muito importantes. Eu tenho um bosque de 100 hectares nos Estados Unidos. E hoje, o valor desse bosque é somente o valor da madeira. Se alguém propuser a construção de um Shopping Center no local, o valor desse empreendimento vai ser muito maior do que a madeira e a floresta que tenho. O que estamos fazendo é colocar valores em outros serviços que as florestas proporcionam à sociedade para que esse tipo de diferença de valores acabe.

Mas como podemos calcular esse valor?
Jenkins – Nós últimos dez anos houve várias tentativas de lançar esse tipo de valorização dos recursos naturais. O mais famoso foi há oito anos, quando um grupo da Universidade de Maryland lançou um estudo para esse cálculo. Eles chegaram ao valor de US$ 33 trilhões. Essa valoração foi calculada pelos serviços ambientais globais em todo o mundo, incluindo os prestados pelo ecossistemas marinhos e as florestas. Agora outro ponto importante é que essa valorização também apontou qual é o mercado que vai pagar e o quanto vai pagar por esses serviços. E isso já é uma realidade. Em Nova York, também já existe um pagamento pela conservação da água. O Estado paga US$ 800 milhões para programas de conservação da água. E assim teremos cada vez mais exemplos de o quanto o mercado vai pagar.

Na cidade de Quioto, no Japão, o governo também paga para os pequenos agricultores conservarem as florestas porque eles precisam da água. Outro exemplo é o carbono pago no mercado global pela União Europeia no preço de US$ 20 por tonelada. [Esse mercado de carbono existe porque empresas da Europa precisam reduzir as emissões de gás carbônico responsável pelas mudanças climáticas. As empresas que não conseguem cumprir suas metas podem comprar direitos de emitir carbono de outras companhias, que reduziram suas emissões].

A floresta pode ter valor porque conserva mananciais. Também pode valer por estocar carbono que, se queimado, iria para a atmosfera. Por isso, ela pode ser negociada no mercado da água ou do carbono. Em qual dos dois ela vale mais?
Jenkins – O mercado de carbono é global. O tema atinge toda a atmosfera e nós temos apenas uma atmosfera no mundo. E por isso estamos tentando criar uma taxa global para o carbono. No caso da água ela atinge apenas bacias hidrográficas locais. É claro que há muita diferença entre as bacias hidrogáficas. Em algumas vivem 800 milhões de pessoas. Outras são pouco povoadas. Mas o mercado da água vai ser sempre local, por mais que atinja um grande número de pessoas.

O mercado de água sempre vai ser vital, porque não vamos conseguir substituir a água. Por isso, a longo prazo, a água vai ser o mais importante dos recursos.

Qual deles é o mais importante para valorizar as florestas?
Jenkins – Neste momento o mercado de carbono é o maior deles. Algumas projeções do Deutsche Bank indicam que o mercado de carbono vai ser um dos maiores do mundo. Mas, no meu ponto de vista, esse mercado é temporário. Por que ele é parte de um plano para mudar as fontes de energia atuais. Quando pararmos de usar o petróleo, o mercado de carbono não vai ser mais tão importante. Mas o mercado de água sempre vai ser vital, porque não vamos conseguir substituir a água. Por isso, a longo prazo, a água vai ser o mais importante dos recursos.

Cobrar pela água é um risco para populações mais pobres?
Jenkins – Essa é outra crítica comum. Acredito que dependendo do modelo eles podem ganhar com a água, pois podem receber pelos recursos naturais que guardam e que garantem a água de qualidade. As pessoas que moram nas áreas de nascentes, e geralmente são pequenos agricultores ou populações tradicionais, devem receber pelo serviço que eles fazem pelo restante da sociedade. Quem mora nessas regiões tem que receber pelos serviços ambientais e não pagar por elas. Eu sou um dos que está guardando a água. E aí entro novamente nos meus 100 hectares de bosque, que hoje só valem pela madeira. Nós precisamos mudar isso. Ele tem que ser contabilizado pela biodiversidade.

Não é muito otimismo contar com esse mercado no meio de uma crise financeira tão severa?
Jenkins – Não tem como dizer que não vai ser um obstáculo. Mas é temporário. A crise global acaba em cinco anos. Mas a crise ambiental não. O meio ambiente vai continuar sendo a prioridade global. E hoje, mesmo com a crise, já é a segunda prioridade. Estamos percebendo que os serviços ambientais são fundamentais para manter o equilíbrio do planeta. As florestas e o meio ambiente vão se tornar tão importantes que o Brasil se tornará uma grande potência ambiental. Da mesma forma que as potências em reservas de petróleo determinaram há cinqüenta anos atrás quem seriam as superpotências de hoje, acredito que o mesmo vai acontecer com as grandes florestas.

(Por Juliana Arini, Revista Época, 01/04/2009)

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