A aluna da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) Kethlen Rose Inácio da Silva desenvolveu
um processo para a degradação de garrafas à base de polietileno
tereftalato (PET) por meio de fungos. O trabalho de pesquisa sobre a
biodegradabilidade de polímeros sintéticos por ação de microrganismos
conhecidos como “basidiomicetos de podridão branca”, cultivados em
resíduos agroindustriais com diferentes fermentações, correspondeu à
dissertação de Kethlen, que teve apoio da FAPESP na modalidade Bolsa de
Mestrado e foi apresentada no fim de janeiro na FEA. Tais fungos têm
sido objeto de diversos estudos, por conta de sua capacidade de
degradação de materiais.
“Foram utilizadas duas linhagens de fungos Pleurotus sp, que são
encontrados naturalmente nas matas brasileiras crescendo sobre
madeiras, da qual retiram nutrientes”, disse Kethlen à Agência FAPESP.
“Os fungos Pleurotus sp estão também amplamente distribuídos pelo sul e
pela área central da Europa e também pelo norte da África.” A bióloga
utilizou uma técnica conhecida como planejamento experimental com o
objetivo de chegar a uma condição adequada para a biodegradação dos
polímeros. O estudo foi orientado pela professora Lúcia Regina Durrant,
do Departamento de Ciências de Alimentos da FEA.
“O planejamento experimental, utilizado pela primeira vez em
laboratório para esse fim, possibilitou a realização de um estudo
preliminar em que foi possível avaliar a interferência de diversas
variáveis no processo de biodegradação dos polímeros, como os níveis de
fermentação, tempo de reação e temperatura ideal, levando assim às
melhores condições para a biodegradação do PET”, explicou Kethlen.
“A maioria dos pesquisadores que estuda o assunto utiliza a técnica de
tentativa e erro. A utilização do planejamento experimental e a análise
de fatores que poderiam interferir no processo foram o grande
diferencial desse estudo”, conta Kethlen, que iniciará doutoramento no
Laboratório de Sistemática e Fisiologia Microbiana da Unicamp. Para
chegar à condição ótima para a degradação dos polímeros, ela teve que
descobrir ainda detalhes sobre as atividades enzimáticas ligninolíticas
dos fungos e quantificar a sua perda de massa, além de analisar as
taxas de biodegradação do PET.
Segundo a bióloga, um resultado relevante do trabalho é que, dentre
todas as condições estudadas, a fermentação semi-sólida foi a mais
adequada para a biodegradação desses polímeros usados desde a década de
1970, especialmente em embalagens. “Os microrganismos cresceram em
condições muito semelhantes ao seu habitat natural, tornando-os capazes
de produzir enzimas e metabólitos que não seriam produzidos em outros
tipos de fermentação”, explicou.
Problema ambiental
Foram realizados mais de 600 ensaios para verificar a interferência dos
fungos na biodegradação dos polímeros. “A fermentação semi-sólida
apresentou bons resultados durante a maioria dos ensaios estudados, com
expressiva produção de enzimas lignocelulolíticas e de biosurfactantes,
além de alterações na estrutura e na viscosidade dos polímeros”,
apontou.
“Além disso, as duas linhagens lignocelulolíticas utilizadas no estudo
demonstraram ter capacidade de se desenvolver em meios contendo fontes
de carbono sintético e de difícil degradação”, disse Kethlen. As duas
linhagens fúngicas de Pleurotus sp foram cultivadas juntamente com
polímeros de garrafa PET sob fermentação semi-sólida e incubados em
estufa a 30 ºC durante até 90 dias.
Os resultados do trabalho de pesquisa representam nova contribuição
para problemas envolvendo o PET, uma vez que sua reciclagem demanda
grande consumo de água e energia, além de promover a geração de
resíduos sólidos, emissões atmosféricas e efluentes líquidos.
“Estudamos uma nova metodologia em laboratório e conseguimos definir
uma condição adequada para a biodegradação das garrafas PET, que,
quando depositadas no ambiente, entopem os sistemas de coleta de esgoto
gerando inundações locais, além de apresentar riscos pela queima
indevida que resulta em emanações tóxicas na atmosfera”, disse Kethlen.
“É importante destacar que outros estudos são necessários para atestar
a eficiência desse processo que acaba de ser desenvolvido”, destacou. A
bióloga ressalta que na cidade de São Paulo os plásticos são o segundo
elemento mais encontrado no lixo, correspondendo a cerca de 23% do peso
total dos resíduos encaminhados para os aterros sanitários, parcela
importante considerando-se que o plástico é um elemento leve e de
grande volume.
(Por Thiago Romero,
Agência Fapesp, 01/04/2009)