A dengue já matou três pessoas em províncias do norte da Argentina vizinhas a Bolívia e Paraguai, em meio a polêmicas sobre os números oficiais, que falam em mais de 4 mil infectados pela doença, menos da metade do denunciado por ONGs.
O alarme entre a população aumentou na noite de segunda-feira com a morte de uma mulher na cidade de Charata, na província de Chaco, onde a situação "é séria e grave", admitiu hoje a ministra de Saúde argentina, Graciela Ocaña, que viajou nesta manhã à região com um grupo de funcionários.
O panorama sombrio foi agravado nas últimas horas pela confusão em torno dos dados oficiais, já que o Governo de Chaco desmentiu hoje a morte de uma mulher que havia sido confirmada pelo Executivo nacional na segunda à noite.
"Está viva e estamos tentando salvá-la", afirmou o diretor do hospital da cidade de Roque Sáenz Peña, Luis Lita, sobre o estado de saúde de Susana Jiménez, que na segunda à noite tinha sido dada por morta.
O falecimento de Nélida Jiménez, que não possui ligação com Susana, somou-se ao das duas vítimas registradas no país desde o começo do ano. Suspeita-se ainda que uma jovem de 18 anos tenha morrido há 15 dias em Chaco por causa da dengue.
Também causa confusão o número de casos detectados da doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
O diretor nacional de Prevenção de Doenças e Riscos, Hugo Fernández, afirmou hoje à Agência Efe que o número de infectados pela doença no país pode chegar a 4.300, mas ONGs e funcionários do interior do país denunciam que esse dado é substancialmente maior.
A organização humanitária Centro Nelson Mandela, de Chaco, afirma que, só nessa província, vizinha ao Paraguai, mais de 11 mil pessoas estão doentes.
Na mesma linha, a subsecretária de Medicina Preventiva de Catamarca, Mirella Orellana, afirmou que, somente no acumulado do ano, foram detectados quatro mil casos de dengue nessa província do norte do país, onde a pobreza estrutural e a epidemia na Bolívia teriam tido influência na expansão da doença.
Fernández admitiu que "estima-se que, para cada caso reportado, poderia haver entre cinco e dez não reportados", como se deduz de uma norma de projeção estatística elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para países emergentes.
Além de afetar províncias do norte do país que fazem fronteira com Bolívia e Paraguai, a doença já alcançou Buenos Aires e sua populosa periferia, onde pelo menos 60 casos foram registrados.
"Todos temos algum parente, algum amigo, pessoal do meu gabinete, esposas dos meus funcionários, com dengue", criticou Miguel Tejedor, prefeito de Charata, cujo hospital local, há dias, se encontra lotado de pessoas que chegam com os sintomas típicos da doença.
A situação se repete em outras províncias do norte da Argentina, onde as péssimas condições de moradia, a falta de água potável e o clima parecem confabular contra o estado de saúde dos habitantes.
Neste contexto, os Governos do centro e do norte do país intensificaram as fumigações e as ações de prevenção para tentar conter a propagação da dengue, cujos sintomas são febre alta, dor de cabeça, vômito e erupções na pele.
Em sua variante mais grave, a dengue pode causar a morte por hemorragia.
Apesar de vários especialistas advertirem de que a falta de políticas oficiais facilitou a propagação da doença, fontes oficiais insistem em que a Argentina não é imune à expansão que ocorre em países vizinhos.
Enquanto na Bolívia, em 2009, foram registradas 22 mortes por dengue e o número de infectados chegou a 50 mil, no Paraguai admitem que há uma transmissão ativa do vírus.
Jorge Gorodner, especialista em doenças tropicais, afirmou hoje que "a mudança climática é determinante" à propagação da doença, mas "ninguém foi pego de surpresa pelo surto da epidemia, porque, há três anos, advertiu-se sobre a situação" e "poderia ter sido evitada".
(Efe
, UOL, 31/03/2009)