De pés descalços, o agricultor Ari Molinari, 70 anos, caminha pela estrada que ajudou a abrir, há 56 anos, em meio à mata fechada. O cenário atual, com casas e galpões de ovelhas e gado, não lembra em nada a floresta virgem na qual Ari se embrenhou com o pai, aos 14 anos. Com foices e facões, os dois saíram de Botuverá e andaram oito horas até achar o local onde ergueram moradias e constituíram família. Com os olhos vermelhos, o agricultor relembra os esforços e se prepara para deixar o terreno onde vive, no Faxinal do Bepe. A despedida faz parte das ações para a preservação do Parque Nacional da Serra do Itajaí .
Hoje, o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Rômulo Mello, virá a Blumenau para anunciar o primeiro repasse de R$ 3,75 milhões para famílias de agricultores que ocupam áreas nas imediações do parque. O agricultor Ari, no entanto, não sabe se será um dos contemplados. Os nomes das famílias – sabe-se que são três – estão sendo mantidos em segredo para preservar a segurança dos moradores. Independentemente do momento de sair de casa, Ari sabe que a despedida é inevitável.
– Isso era tudo mato, o que nós lutamos pra conseguir viver aqui não foi pouco. Depois de quase uma vida inteira, vai ser triste sair daqui – resume Ari.
Além do anúncio das indenizações, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade vai lançar oficialmente o Plano de Manejo, que prevê critérios para uso da área e balanço das espécies animais e vegetais encontradas no parque. O plano foi elaborado por pesquisadores da Associação Catarinense de Preservação da Natureza e Furb.
– O Plano de Manejo é como se fosse um Plano Diretor de um município. Queremos manter a preservação, profissionalizando o acesso da comunidade ao local – resume o chefe do Parque Nacional da Serra do Itajaí, Fábio Faraco.
(Por Rafael Waltrick, Clicrbs, 31/03/2009)