Enquanto a iluminação de locais públicos e das residências de pessoas
engajadas com a causa do meio ambiente são desligadas durante uma hora
no Dia do Planeta, um novo relatório do MIT revela que as técnicas de
produção das mais modernas fábricas são espetacularmente ineficientes
em termos de energia.
Ineficiência de sobra
Não se trata de uma análise de processos industriais antiquados que
necessitem de algum tipo de upgrade: ao contrário, o relatório analisou
os 20 principais processos industriais considerados de ponta,
empregados nas fábricas supermodernas dos Estados Unidos. No conjunto,
os processos industriais mais modernos são de 1.000 a 1 milhão de vezes
mais ineficientes, em termos de peso do produto gerado, do que as
indústrias tradicionais.
Uso extravagante de energia
A comparação em termos de peso do produto levanta suspeitas imediatas -
parece fazer pouco sentido comparar uma tonelada de processadores de
computador de última geração com uma tonelada de produtos de uma
fundição tradicional.
Mas o professor Timothy Gutowski afirma que essa comparação em termos
tão amplos é um passo essencial rumo à otimização dessas novas técnicas
de produção à medida que elas ganham espaço, importância e magnitude
dentro da economia.
"O uso de materiais e energia absolutamente extravagantes por muitos
processos industriais mais modernos é alarmante e precisa ser olhado
juntamente com os argumentos de sustentabilidade que se faz em relação
aos produtos fabricados por esses meios," dizem os pesquisadores na
conclusão do estudo.
Eficiência energética da indústria
A preocupação procede: historicamente, a indústria tem sido avaliada
por fatores como seus custos de produção, preços de venda ou unidades
de produto por unidade de tempo. O volume de energia que seus processos
usam não é um fator que tenha recebido muita atenção até hoje.
Não se trata de uma preocupação meramente ambiental. Conforme essas
indústrias mais modernas se disseminam e se tornam mais importantes em
termos relativos no quadro geral da economia, essa economia como um
todo passa a ser mais sensível a fatores como elevação nos custos da
energia ou a adoção de taxações sobre a emissão de carbono.Ou seja, a
economia das indústrias moderníssimas será mais sujeita a crises do que
a economia das indústrias tradicionais.
Dito de outra forma, as imagens das salas limpas das novas indústrias,
que vendem a sensação de ultramodernidade, podem ser piores do que as
tradicionais imagens dos antigos barracões e suas chaminés, usadas
rotineiramente para se vender a imagem de um passado que se quer
enterrar.
Esperanças no horizonte
Resta considerar que, justamente por serem o estado da arte da
indústria, esses novos processos industriais são recentes e certamente
podem ser otimizados.
Um exemplo é o dos painéis solares fotovoltaicos. Eles utilizam um
processo de fabricação semelhante ao dos processadores de computador,
embora de várias gerações atrás. Contudo, a ampliação do uso da energia
solar fará com que a indústria de células solares ultrapasse em muito a
escala da fabricação de chips.
A grande esperança nesse particular é o desenvolvimento da eletrônica
orgânica, por meio da qual uma nova geração de células solares
plásticas e flexíveis será produzida por técnicas semelhantes à
impressão.
Fase vapor versus fase líquida
As fábricas de chips mais modernas também têm seus problemas, assim como outros campos promissores, como a nanotecnologia.
Vários produtos de última geração utilizam técnicas que envolvem
processamento das matérias-primas na forma de vapor, nos quais esses
materiais são vaporizados no interior de câmaras de vácuo para serem
depositados sobre algum tipo de substrato.
O problema é que os processos de fase vapor são muito menos eficientes
em termos de energia do que os processos mais tradicionais, nos quais
os revestimentos são aplicados a partir de uma solução líquida.A
esperança é que versões de fase líquida dos processos mais modernos
possam vir a ser desenvolvidas.Como resume o professor Gutowski, o novo
estudo é apenas "o primeiro passo para se fazer algo a respeito."
(
Inovação tecnológica, 31/03/2009)